Venom: Vale a pena o preço do ingresso?

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Depois do sucesso estrondoso de Deadpool e Logan, todos estávamos ansiosos pelo filme do Venom. Mas daí saíram as primeiras críticas, e parece que o filme é um fiasco. Afinal, o novo filme solo do Venom é tão ruim assim?

QUEM É VENOM?

Resultado de imagem para symbiote bells spider manCaso você tenha passado os últimos trinta anos em uma caverna ou não entenda nada do universo dos quadrinhos, Venom é um dos vilões mais clássicos do Homem-Aranha. O personagem é um simbionte – organismo que precisa viver em associação com uma espécie hospedeira para sobreviver – alienígena senciente, que parece uma “Amoeba” azul. Ao se ligar a um hospedeiro, o simbionte confere a ele habilidades e resistência sobre-humana. Nos quadrinhos da Marvel, o simbionte já se uniu a diversos personagens, o mais famoso deles, o Homem-Aranha.
            Essa pequena introdução vai ficar por aqui pois o objetivo deste “post” é falar do novo filme da Sony. Mas caso tenham interesse em saber mais sobre a origem e as histórias do personagem, é só deixar um comentário nessa postagem.

QUAL A HISTÓRIA DO NOVO FILME DO VENOM?

Resultado de imagem para venom cartaz filmeO longa é baseado em duas histórias específicas do simbionte nas HQs: Protetor Letal e Planeta dos Simbiontes. No filme, que funciona como uma espécie de origem do anti-herói no novo universo cinematográfico da Sony, acompanhamos Eddie Brock (Tom Hardy), jornalista investigativo que vem tentando derrubar o notório fundador da Life Foundation, o gênio Carlton Drake (Riz Ahmed) – e essa obsessão acaba arruinando sua carreira e o relacionamento com sua namorada, Anne Weying (Michelle Williams). Perdido e desempregado,  o repórter vê a oportunidade de voltar à Fundação Vida para investigar um dos experimentos de Drake, mas acaba ele mesmo se tornando uma vítima dos experimentos quando o simbionte Venom invade seu corpo.

Link do Vídeo no Youtube: Venom | Trailer Legendado

            Não vou descrever o que acontece nos arcos Protetor Letal e Planeta dos Simbiontes, pois eles podem entregar elementos da trama, o que alguns poderiam considerar como “spoilers”. Mas se alguém se interessar, posso fazer um “post” falando especificamente desses dois arcos de histórias, e compará-los com a abordagem do filme. Mas já saibam que o filme apenas se inspira nas HQs, pegando alguns elementos dessas duas histórias, e misturando-os numa trama única. Eu, particulamente, não acho Planeta dos Simbiontes a melhor história de origem do personagem. Gosto mais da versão Agentes do Cosmos.
AFINAL, O NOVO FILME DO VENOM VALE O PREÇO DO INGRESSO?

Para responder essa pergunta, preciso saber do seu perfil como espectador. Pois veja bem, Venom não é um bom filme. Mas ainda assim, ele não chega a ser uma ofensa a sua inteligência como vem sendo taxado por algumas críticas. Podemos compará-lo aos filmes de super-herói dos anos 1990, e do começo dos anos 2000, quando o gênero ainda estava se estabelecendo. Mas está longe de ser tão ruim quanto Demolidor, Elektra ou Mulher-Gato. O filme funciona como entretenimento, mas com a devida suspensão de descrença, pois o roteiro não é dos melhores, com furos aqui e ali – decisões motivadas por estupidez dos personagens e exageros para forçar uma coincidência que culminam em situações que beiram o absurdo. A maior parte dos problemas do filme provém desses absurdos no roteiro, e da falta de profundidade da história e dos personagens – o que faz com que a gente acabe não se identificando da maneira que devíamos com nenhum desses personagens, principalmente com o vilão, que apresenta conceitos interessantes, mas é pessimamente desenvolvido. Tom Hardy é o único que consegue se destacar, entregando a melhor atuação  do filme, transmitindo bem a sensação de incômodo que o simbionte causa em Eddie Brock. Aliás, a relação entre Eddie e Venom, por mais cafona que seja as vezes, é uma das melhores coisas do filme.
Venom também tem ótimas ideias, mas não explora nem desenvolve adequadamente nenhuma das que se propõe a contar: elas estão ali apenas para a história andar. Então, se por exemplo, da noite pro dia o Venom começa a gostar do Eddie, o roteiro não vai se preocupar em explorar essa informação, aprofundá-la, ou ao menos explicar melhor o porquê dela acontecer. Ela será apenas jogada no filme, pra história poder continuar.
Outro problema do filme é a sua falta de identidade. No início da produção, Venom ia ser um filme para maiores de 18 anos, que pendia para o terror; para um filme de monstro. Porém, ao longo da produção, a Sony mudou de ideia e ele virou PG 13. Não que isso seja um problema, mas acabou resultando em um filme que não sabe muito bem a que veio. Ele parece querer ser um filme de monstro, mas que não nos assusta em nenhum momento; o Venom não nos assusta em nenhum momento, e nem os vilões do filme são assustadores. Ele tem bons momentos de comédia, mas também não é um filme de comédia. No final, Venom acaba soando como mais um filme de super-herói formuláico, apesar do herói supostamente ser um vilão. Aliás, nem isso é muito explorado. Se não fosse por uma cena ou outra (em que ele devora, fora da câmera, a cabeça de um ou outro inimigo), a gente nem ia achar que o Venom é um anti-heroi, porque isso não fica claro, diferente, por exemplo, do que acontece em Deadpool, no qual desde o começo do filme já fica claro que é o cara é um anti-herói. Mas os roteiristas e o diretor não puderam se soltar da mesma forma que os roteiristas da Fox puderam em Deadpool, e por isso, um filme que daria um ótimo “Médico e o Monstro”, acabou caindo na mesmice de sempre.
            É por causa desses problemas que Venom se parece com esses filmes dos anos 1990/2000, como mencionei ali em cima. Mas ainda assim, ele consegue funcionar. Mas pera, como eu posso estar dizendo isso se até agora só esculachei com o filme? Acontece que se você não se preocupa com essas coisas que apontei e  só estiver procurando um entretenimento de super-heróis sem compromisso nenhum, a película vai cumprir bem o seu papel, sem ser tão cafona quanto algumas das pérolas da referida década. Eu me diverti no cinema, não fiquei com sono, nem entediado – em nenhum momento cheguei a olhar a hora, e pensar que o filme estava grande demais... O longa é bem dinâmico, e quando você menos espera, ele acaba –, e gostei bastante do visual do Venom e dos simbiontes. Não é o filme que eu esperava ver – sim, é um puta potencial desperdiçado – mas ainda assim, deu pro gasto. A relação estabelecida entre Eddie e Venom ao final do filme é interessante, e me conquistou o suficiente para assistir uma possível sequência.
Resumindo, a situação é a seguinte: se você gosta de filmes “blockbuster” e adora filmes de super-heróis, não acha que o gênero já está começando a ficar saturado, e se divertiu ao assistir quase todos os filmes da Marvel e DC, OK, esse é um filme que provavelmente vai te divertir, e valer o preço do ingresso – até porque, filmes de super-heróis são sempre mais legais de se assistir no cinema do que em casa. E ele tem alguns méritos pra isso, principalmente por apresentar uma dinâmica – se funciona ou não, é outra história – que é bem diferente da que estamos acostumados nos filmes tradicionais de herói – justamente a interação entre Eddie e Venom.
Pra quem compara este filme aos da Marvel, eu entendo que ambos sejam filmes formuláicos, mas há uma diferença: a Marvel entrega filmes formuláicos nos trinques, redondinhos. Venom não é tão redondinho assim. Mas tenta.
Ah, e se você é fã do personagem, eu honestamente não sei se vai sair satisfeito ou não. Mas já vá sabendo que nessa adaptação Venom não bota pra fora os sentimentos mais agressivos de seu hospedeiro nem se alimenta de suas emoções; Venom é uma entidade à parte de Eddie, que – literalmente – briga pelo controle do seu corpo. Eu gostava mais da pegada psicológica, como em Homem-Aranha 3. Mas até que funcionou neste filme.


APROFUNDANDO A DISCUSSÃO

Caso você já tenha assistido à Venom e queira se aprofundar na discussão comigo, deixa aí seu comentário. Aproveita, e diz também se gostou deste novo formato. Estou tentando escrever críticas e resenhas mais objetivas e didáticas, que te ajudem mesmo na hora escolher o que vale ou não a pena o seu tempo e dinheiro.




"O que define um filme ser bom ou não? O que define você gostar ou não de alguma coisa? Seus gostos? Sua subjetividade cunhada pela sua vivência e experiências sociais desde a sua infância até o momento atual no sentido mais existencialista possível dessa lógica? Apenas você. E mais ninguém define o que é bom ou não. O que um crítico de cinema faz é discutir se regras usadas, pra facilitar uma mensagem passada de modo áudio visual, foram bem sucedidas. Analisa essas regrinhas que facilitam a captura da atenção do interlocutor. Analisa se além dessas regras o diretor se arriscou em botar ali, algo seu de um jeito especial. De um jeito até pra poucos. E essa é (às vezes) a graça de um filme blockbuster ou cult. E se mesmo sem usar essas regrinhas o diretor e sua equipe conseguiram passar a mensagem, conseguiram te atingir, conseguiram capturar a atenção de sua subjetividade cunhada pela sua vivência e experiências sociais desde a sua infância até o momento atual no sentido mais existencialista possível dessa lógica? E se mesmo assim eles conseguiram… O filme ainda é ruim? O filme não funciona? Bem, se sua resposta é sim, que não funciona, é uma pena você pensar tão pequeno sobre cinema ainda. Se sua resposta é não, ele funciona e que regras pra facilitar são apenas regras pra facilitar e que não, necessariamente, são uma obrigação. Afinal… Você considera cinema uma arte, não é? E existem regras pra arte?"
(Alcênio Borges, ZOOMNews)


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