Era rotina:
todo fim de semana íamos almoçar num restaurante famoso que tinha no Shopping
Tropical, em Araraquara (pra quem não lembra, já escrevi sobre esse lugar e sobre Dona Jacira, para
ler também, clique aqui). Os tempos eram outros, os shoppings ainda tinham
aquela arquitetura clássica, cheia de detalhes, e não esse padrão comercial que
lota os grandes centros hoje em dia. Nessa época, andava pra cima e pra baixo com
uma onça de pelúcia. Dormia com ela, dava comida de verdade pra ela, dava banho
nela, e levava ela pra almoçar com a gente, afinal, ela já era da família.
Enfim, lá estava eu, criança inocente, com meu bichinho de pelúcia correndo entre as mesas do restaurante,
quando, por algum motivo, alguém me chamou a atenção. Era uma senhora, por volta dos seus setenta
anos. Não sei porque eu me aproximei. Nem o motivo me fez subir a cadeira e
sentar de frente pra ela. Muito menos o porque de olhar pra ela e perguntar:
"Ei, quer ser minha mãe também?".
Engraçado como crianças se aproximam de estranhos como se eles fossem a melhor pessoa do mundo. Talvez elas percebam algo que os adultos não, ou talvez elas sempre vejam o que de melhor cada pessoas tem a oferecer. Ou então elas são simplesmente umas tapadas.
Não deixa de ser interessante: quando a gente é adulto, perde o hábito de reparar nas coisas. Nada mais é interessante, pessoas diferentes nas ruas não são interessantes. E não deixa de ser curioso o fato de que nossa memória é feita justamente a partir do fator "novidade". Quanto mais de forma banal encaramos a vida, e quanto menos interesse temos pelas pequenas coisas, menos nosso cérebro sente a necessidade de registrar os momentos. E é por isso que temos memórias tão agradáveis da infância, quando tudo é lindo e maravilhoso, e que achamos que o tempo passa muito rápido e nada de novo acontece depois de uma certa idade. As crianças já nascem sabendo disso, apenas vão esquecendo enquanto crescem, dominadas pelo sistema.
Enfim, o importante disso tudo é que foi um ato desses que me fez conhecer uma pessoa da qual hoje em dia guardo tão boas memórias, Dona Jacira, essa mesma senhorinha que conheci num almoço casual e que acabou virando amiga da família. Lembro que a primeira biblioteca fora de casa que tive contato foi a de seu marido, num desses lanches com chá das cinco, que encantado com a minha fascinação por livros me presenteou com dois livros de sua própria coleção. Guardo com muito carinho os dois livros até hoje. Adorava também quando, nessas visitas, saia pra passear com os cachorros, uma palhinha de um sonho nunca realizado.
Engraçado como crianças se aproximam de estranhos como se eles fossem a melhor pessoa do mundo. Talvez elas percebam algo que os adultos não, ou talvez elas sempre vejam o que de melhor cada pessoas tem a oferecer. Ou então elas são simplesmente umas tapadas.
Não deixa de ser interessante: quando a gente é adulto, perde o hábito de reparar nas coisas. Nada mais é interessante, pessoas diferentes nas ruas não são interessantes. E não deixa de ser curioso o fato de que nossa memória é feita justamente a partir do fator "novidade". Quanto mais de forma banal encaramos a vida, e quanto menos interesse temos pelas pequenas coisas, menos nosso cérebro sente a necessidade de registrar os momentos. E é por isso que temos memórias tão agradáveis da infância, quando tudo é lindo e maravilhoso, e que achamos que o tempo passa muito rápido e nada de novo acontece depois de uma certa idade. As crianças já nascem sabendo disso, apenas vão esquecendo enquanto crescem, dominadas pelo sistema.
Enfim, o importante disso tudo é que foi um ato desses que me fez conhecer uma pessoa da qual hoje em dia guardo tão boas memórias, Dona Jacira, essa mesma senhorinha que conheci num almoço casual e que acabou virando amiga da família. Lembro que a primeira biblioteca fora de casa que tive contato foi a de seu marido, num desses lanches com chá das cinco, que encantado com a minha fascinação por livros me presenteou com dois livros de sua própria coleção. Guardo com muito carinho os dois livros até hoje. Adorava também quando, nessas visitas, saia pra passear com os cachorros, uma palhinha de um sonho nunca realizado.
O
tempo, porém, nunca foi amigo dessa amizade. Meus pais se separaram, eu vim pra
Niterói, e fiquei mais de dez anos sem visitar Araraquara. Tentativas de
contato sempre foram feitas por parte de
minha mãe, mas eu era muito pequeno pra saber o que se passava. Mas é como dizem por aí: "antes tarde do
que mais tarde". Tantos anos
depois, e de inúmeras tentativas de descobrir o paradeiro de Dona Jacira,
descobrimos que ela ainda mora na mesma casinha. O marido, seu Solon, há muito se foi. Mas Dona Jacira continua
firme e forme. Ser recebido de braços
abertos, e com tanto carinho e felicidade, quase 15 anos depois, não tem preço.
Saber que uma foto sua fica na estante da sala até hoje, menos ainda. Mas
talvez o mais importante seja descobrir o quanto você ainda é querido, e o
quanto o mais simples dos atos, quando feito de coração, pode fazer tão bem,
não só a quem recebe, mas também a quem o pratica. À Dona Jacira, só quero que saiba que mesmo
depois de tantos anos, você continua sendo uma pessoa muito especial pra mim, e
que o tempo, por mais forte que seja, nada pode contra os sentimentos. E que de
você, eu só guardo boas memórias. Estarei sempre ao seu lado, não importa onde.
Entrelinhas
Depois de ter terminado de escrever esse texto, e de malas prontas pra voltar pra Niterói, mal sabia a surpresa que eu estava pra ter. Chegando na rodoviária, atrasado como sempre, me deparo com alguém sentadinha de frente pra estação do ônibus me esperando pra se despedir de forma apropriada de minha breve estadia na cidade. Não esperava, e devo admitir, fiquei emocionado. À Dona Jacira, novamente, obrigado pelo tamanho de todo o carinho. Levarei esse momento pra sempre comigo. E obrigado também a sua filha, Luiza, por me receber também de braços abertos. Até a próxima!
Entrelinhas
Depois de ter terminado de escrever esse texto, e de malas prontas pra voltar pra Niterói, mal sabia a surpresa que eu estava pra ter. Chegando na rodoviária, atrasado como sempre, me deparo com alguém sentadinha de frente pra estação do ônibus me esperando pra se despedir de forma apropriada de minha breve estadia na cidade. Não esperava, e devo admitir, fiquei emocionado. À Dona Jacira, novamente, obrigado pelo tamanho de todo o carinho. Levarei esse momento pra sempre comigo. E obrigado também a sua filha, Luiza, por me receber também de braços abertos. Até a próxima!
0 comentários:
Postar um comentário