Assistir Upstream Color, filme mais recente do
diretor Shane Carruth, foi uma
experiência única, em todos os sentidos. Upstream
Color é um desses filmes mais autorais, ou seja, ele destaca o diretor como
força criativa do filme, ignorando as exigências dos grandes mercados. Isso
quer dizer que se o diretor quiser pegar toda a mensagem que ele quer passar,
jogar tudo num "liquidificador", e for filmar na ordem em que as
coisas forem saindo, ele vai poder fazer sem os executivos o podando a todo
momento para tornar o filme de fácil compreensão. Não estou dizendo isso porque o filme foi feito dessa forma, muito pelo contrário, Carruth claramente sabia
o que estava fazendo. Estou dizendo isso porque o filme é extremamente complexo
pra pessoas que não estão acostumadas com esse tipo de obra. Pessoas como eu.
Kris(Amy Seimetz), a protagonista, é raptada e um
verme é introduzido em seu organismo. O resultado é a hipnose profunda e total
submissão a seu captor. Ele diz que ela não pode olhar diretamente para ele
pois a cabeça dele é feita do mesmo material do que o sol e ela acredita. Ele
diz para ela vender a casa e dar o dinheiro pra ele e ela faz. Um tempo depois,
o captor some. Ela é então atraída para um homem que "a cura". A
partir daí, Kris tenta seguir sua vida, e então Jeff aparece em sua vida. Jeff
é interpretado por Shane Carruth e
tudo que indica que seu personagem também passou por algo como Kris. Eles se
juntam para tentar talvez buscar respostas sobre o que lhes aconteceu. Daí em
diante, "o que nos resta são interpretações".
Não vou mentir pra vocês: eu
terminei o filme sem entender absolutamente nada. Mas não me julguem, este foi
o meu primeiro contato com esse tipo de filme. E isso foi ótimo, porque ele
serviu pra expandir o meu horizonte. Eu já me considerava um cinéfilo, e curto
muito filmes mais "cabeça". Porém, estamos todos acostumados com
filmes que vem mastigados pra gente. Mesmo aqueles como Matrix, que rendem longas horas de debates após assistidos, tem uma
mensagem muito clara. Mesmo que algumas pessoas peguem referências que outras
não pegaram, esses filmes conseguem nos passar a história de uma forma um tanto
quanto clara. Isso não acontece em Upstream
Color, e acredito que seja assim no cinema mais autoral, e talvez por isso
seja um gênero tão de nicho.
Infelizmente, o defeito do filme é ele possuir essa narrativa demasiadamente complexa e extremamente difícil de acompanhar. Acredito que há outras formas de contar a mesma história, de passar a mesma mensagem, mas de uma forma um pouco mais linear, sem nem por isso deixar o filme óbvio demais. Não é porque o filme é mais linear que ele perde seu valor ou complexidade, veja, por exemplo, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças.
Infelizmente, o defeito do filme é ele possuir essa narrativa demasiadamente complexa e extremamente difícil de acompanhar. Acredito que há outras formas de contar a mesma história, de passar a mesma mensagem, mas de uma forma um pouco mais linear, sem nem por isso deixar o filme óbvio demais. Não é porque o filme é mais linear que ele perde seu valor ou complexidade, veja, por exemplo, Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças.
Enfim, ninguém é obrigado a gostar desse
tipo de filme. Mas é extremamente interessante ver como cada pessoa o interpreta
de uma forma, ou como tem pessoas que simplesmente não vem sentido nenhum nesse
tipo de obra. A minha dica? Assista o filme, e depois vá escutar o debate feito
no podcast Zoom Cast. o programa dos
caras me fez ver facetas do filme que eu não esperava, e suas opiniões me
fizeram enxergar o tamanho do valor desse filme. A discussão é muito
interessante, e em vários momentos quis estar ali no meio. Espero que da
próxima vez que pegue pra assistir um filme desses eu já consiga sozinho ir
criando minhas próprias interpretações.
Ah, vale ressaltar que a fotografia
e trilha sonora do filme são ótimas, cheias de sentimento. O filme me deixou
nostálgico e melancólico em diversas passagens, apenas pelo belo trabalho da
direção de som e fotografia.
Entrelinhas
Achei engraçado o livro estar
recheado de referências ao livro Walden,
do autor Henry-David Thoreau. Coincidentemente
minha mãe está lendo esse livro no momento. O filme parece ter fortes ligações
com o livro e com as teses do autor do mesmo. Se alguém souber mais a respeito,
comente aqui!
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