Asa-de-Prata

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

"Sombra é um jovem morcego da colônia dos Asas-de-Prata. Curioso, esperto, e movido pelo desejo de ser aceito pelos outros morcegos que o rejeitam por ser pequeno demais, acaba se metendo em uma enorme confusão ao desrespeitar uma proibição lendária: voar durante o dia para ver o sol. A quebra da regra faz com que seu lar, Porto-da-Árvore, um carvalho antiqüíssimo, seja atacado por corujas, as guardiãs do dia. Enquanto alguns dos mais velhos querem entregá-lo aos inimigos, sua mãe e Frida, a mais velha, sábia e poderosa Asa-de-Prata, tentam protegê-lo. Mas esse é apenas o início de uma aventura repleta de aprendizado! Em meio a viagem de migração anual para o Hibernáculo, local onde todos os morcegos se reunem para dormir durante o inverno, o bando é atingido por uma tempestade, e Sombra se perde dos demais. Sem família nem amigos, Sombra começa sua jornada à procura do Hibernáculo na dúvida se será aceito de volta. No caminho encontra Marina, que se tornará sua grande companheira. Juntos, os dois conhecem a Cidade, descobrem os Humanos e o mistério por trás do desaparecimento do pai de Sombra, enfrentam inimigos inesperados e têm de aprender a lidar com perigos que vão do fanatismo religioso à intolerância." 

       Asa-de-Prata é um bom livro.
       A princípio a premissa não parece ser muito original: temos um protagonista que quer ser aceito pelos colegas, temos personagens mais velhos e cheios de lições de sabedoria, temos vilões poderosos, e uma grande aventura. Admito que vi em vários dos personagens deste livro traços que já vi em outros de outras histórias de aventura e ficção, muitas das vezes menos desenvolvidos aqui.
       Mas não é esse mesmo o trunfo de Asa-de-Prata. O que o faz ser diferente de tudo que já li é a maneira que Kenneth Oppel, o autor, encontrou para contar sua história. Para começar, o protagonista é um morcego, e só isso já bastaria para tornar toda a leitura uma experiência no mínimo diferente. Afinal, onde antes já vimos algum tipo de história contada sob a perspectiva de um morcego?
       E é aí que entra o brilhantismo do autor. Kenneth passou meses estudando os morcegos, estudou a forma como enxergam o mundo, como se alimentam, como usam a visão de eco para se orientar, e ainda conheceu toda a mitologia por trás dos morcegos, lendo contos de povos antigos a respeito desses animais. Tudo isso e muito mais está escrito no livro. A impressão que temos é que é mesmo Sombra que está contando a história. O mundo descrito é contado da forma que qualquer morcego o enxergaria. E tudo isso é muito diferente e prazeroso de ler.
       Os personagens são carismáticos, e apesar de não haver um aprofundamento em suas personalidades, enxergamos muitas de nossas características humanas nos heróis dessa fábula moderna.
       É interessante como passei a olhar com outros olhos animais como morcegos, pombos, e até mesmo ratos. Quando nos sentimos parte desse mundo, vemos que tudo é uma questão de como estamos nos colocando perante os outros.

              Marina, Sombra e Godo, o morcego canibal.

       Repetindo, Asa de Prata é um bom livro. Tem uma boa história, bons personagens, e uma trama interessante. Mas não espere mais que isso. É um livro infantil, portanto não espere um desenvolvimento maior dos personagens nem uma história muito complexa. Mesmo assim, não deixa a desejar. A história entretem do começo ao fim, e você pode aprender bastante com seus personagens.
       A história de Sombra não termina em Asa-de-Prata. Muitos mistérios permanecem sem solução: O que aconteceu com o pai de Sombra? Os morcegos poderão finalmente voar durante o dia de novo? Haverá uma nova guerra? Porque os humanos estão marcando os morcegos? Tudo isso promete ser respondido em Sunwing, infelizmente sem tradução autorizada. Vou me arriscar na versão original em inglês, e em breve posto a resenha da continuação da aventura dos morcegos!

 

Herança

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Até bem pouco tempo, Eragon nada mais era do que um pobre garoto da fazenda, e seu dragão, Saphira, apenas uma pedra azul na floresta. Em Herança, o destino de toda uma civilização está sobre seus ombros. Fortalecidos por longos treinamentos e incontáveis batalhas, Eragon e Saphira somam muitas vitórias, mas também colecionam as dores de perdas muito difíceis. Agora, a derradeira batalha está para começar.
O Cavaleiro e seu dragão chegaram mais longe do que qualquer um ousou imaginar.
Mas será que eles serão capazes de derrubar o poderoso tirano Galbatorix e restaurar a justiça no reino da Alagaësia? E se conseguirem, qual será o custo da vitória?

       Esperei dois longos anos por Herança. Assim que o livro teve sua versão brasileira lançada, o comprei de imeditato. Porém, antes de ler, tive que reler os três livros anteriores do ciclo. Como os livros de Paolini são cheios de detalhes, e a história vai crescendo em complexidade, o Ciclo A Herança acabou sendo uma das séries de livros que mais reli na minha vida. Isso provavelmente me ajudou na criação desse universo na minha mente, fazendo tudo parecer mais profundo, real e significativo.
       Como grande fã de Eragon, sou um pouco suspeito para falar, mas considero essa série uma das melhores que já li, senão a melhor. Não vou negar que o livro não tem um âmago no mínimo semelhante ao de Star Wars, mas Christopher o faz de sua própria maneira. Eragon consegue cativar e mostrar que cresceu bastante ao longo da saga, e a escrita do autor consegue nos envolver com a história e os sentimentos dos personagens. As descrições das batalhas, dos artefatos, das lendas, das lições, tudo faz com que Alagaësia pareça tão real quanto o nosso próprio mundo. O modo com que o autor escreve é fenomenal. Sua escrita é perfeita e nos envolve da primeira página até a última.
        Antes de falar do livro em si, vou falar sobre a edição da Rocco. Nos volumes anteriores a edição foi quase perfeita, não haviam muitos erros de gramática. Erros esses que aparecem aos montes em Herança. Palavras fáceis, com a gramática incorreta, erros de concordância em frases, e falta de travessões em diálogos são os principais erros que a editora cometeu. A qualidade da capa também não é muito boa, as bordas douradas envolta da imagem do dragão apagam com pouco tempo de uso e a imagem em si descasca facilmente. Espero futuras edições mais bem trabalhadas, Rocco!
       Mas vamos ao que interessa, que é a história em si. Esse é de longe o meu livro favorito do ciclo! Não só porque é aqui o auge de toda a história, mas porque me ensinou muita coisa importante.
Ler Herança foi uma das experiências mais difíceis que já tive com relação a um livro. Se por um lado eu queria terminar a leitura rapidamente para saber como tudo ia terminar, por outro, eu queria ir lendo cada vez mais devagar, porque sabia que seriam os últimos momentos juntos à Saphira, Eragon, Nasuada, Murtagh, Orik, Arya e Roran. Ler os livros de Christopher foi algo único e inesquecível. Esses personagens tornaram-se algo a mais para mim, quase como se eu os conhecesse.
       O último livro da trama tem um tom diferente dos demais. Se até aqui estávamos acostumados a ver Eragon se preparando, andando pela Alagaësia em busca de conhecimento e aprovação, em Herança Eragon e Saphira já são adultos e não há mais como adiar o confronto direto com Galbatorix. Assim, o livro é repleto de batalhas, muito bem descritas, e a cada capítulo que passa a pergunta permanece: como Eragon irá derrotar Galbatorix?
       Apesar de ser um livro de fantasia, Christopher resolveu as coisas de uma maneira bem real. Ele não criou nada de novo para que surgisse uma brecha por onde Eragon pudesse escapar. Óbvio que existe uma grande surpresa, mas está tudo de acordo com o que já foi dito. Eragon derrota Galbatorix de um jeito coerente, difícil e ao mesmo tempo simples.
       Uma das coisas interessantes é que o livro não termina logo após o confronto final entre Eragon e Galbatorix, ele mostra muitas das coisas que aconteceram depois, e termina de maneira satisfatória a trama individual de cada um dos personagens. Gostei particularmente do destino de Murtagh e de seu dragão vermelho Thorn. Paolini não poderia ter escolhido um final melhor para eles.
       Terminei hoje o livro, com muita dor e sentindo aquele velho vazio pós série maravilhosa.
       A história amadureceu, Paolini amadureceu.
       Como todo bom escritor Christopher escreveu um final completamente inesperado, um final que me chocou e que me entristeceu (me fazendo desejar muito que a saga tivesse um quinto livro), apesar de ser condizente com o que Eragon se tornou. Mas depois de tantas páginas, acho que ainda poderia haver um final menos trágico, menos triste, e talvez até mesmo um pouco melhor.

Eragon e Saphira aos 4 meses.

SPOILERS!

       No final, ver Eragon casado com Arya e com filhos, e Saphira com filhotes, teria sido um fim mais clichê, mas é o que todos esperavam, pois projetamos na fantasia o que gostaríamos para a vida real.
       Fiquei triste por não saber do real sentimento de Arya pelo Eragon, mas achei que a troca de nomes verdadeiros num dos últimos capítulos funcionou melhor do que teria sido um beijo de despedida.
       O final de Eragon foi melancólico e corajoso ao mesmo tempo. No fim, ele termina com a incumbência de recriar a ordem dos Cavaleiros se auto-isolando fora da Alagaësia. Eragon sofre do mal do cara que fica poderoso demais e vê que ele mesmo representa um problema, perde a motivação e escolhe se retirar em um último ato heróico e nobre.
       Fiquei triste com o destino do personagem, mas as coisas aconteceram como deveriam. Não é um "felizes para sempre", mas terminou da melhor maneira possível.
       Mesmo assim me pareceu terrivelmente triste que o homem responsável pela liberdade de milhares de pessoas e seres tenha que ser destinado a passar o resto da vida afastado de todas elas, principalmente das que mais ama. Fico imaginando se não seria solitário demais. Por isso, o que eu prefiro imaginar é que o ciclo, de fato, não chegou ao fim.
       Imagino que Arya um dia se verá sufocada pela vida de rainha dos elfos, e decidirá voar até as terras desconhecidas onde Eragon vive, para ajudá-lo a treinar os novos Cavaleiros e seus dragões.
       Murtagh, após anos passados nos cantos mais reclusos da Alagaësia, irá, como prometera, concluir seu treinamento com Eragon e os Eldunarí.
       Ismira, filha de Roran e Katrina, se tornará uma Cavaleira, e iria com os pais passar o resto de seus dias com Eragon em sua nova casa, treinando com o tio.
       Não vejo outra razão para Eragon nunca mais voltar à Alagaësia. Afinal, pra um cara que vai viver mais de mil anos nunca arrumar um tempinho pra sair de casa, só mesmo se tudo o que ele mais ama já estiver ao seu lado.


Causos do Interior

sábado, 17 de novembro de 2012

       Esta viagem de poucos dias que estou fazendo à cidade onde nasci está sendo muito importante para mim. Estou lidando com pessoas que tem uma maneira totalmente diferente de levar a vida.
       Quem nunca ouviu falar da sabedoria das pessoas da roça? Tudo bem que Araraquara está longe de poder ser chamada de roça, mas a vida aqui é bem diferente da que estou acostumado a levar em Niterói.
       Ainda não sei porque, mas aqui parece que as pessoas tem tempo de viver. Em Niterói, não são raros os momentos em que me sinto sufocado pelo excesso de coisas pra fazer, obrigações, e possibilidades. Não me refiro a uma falta do que fazer aqui. Praticamente tudo de que disponho em Niterói, encontro aqui também: cinemas, shoppings, praças, barzinhos, pontos de encontro.
       Mas me refiro a uma serenidade, uma saúde, que não estou acostumado a ver de onde vim. Falo tudo isso em razão de um fato que aconteceu comigo ontem, e que me surpreendeu bastante.
       Depois de uma manhã na cidade, tinha que voltar para o hotel e almoçar. Peguei um ônibus. Estava relativamente cheio. No meio do caminho, escutei o celular do motorista tocar. Sem demora, ele parou o ônibus numa esquina, saltou, e se dirigiu a um orelhão. Lá, ficou entre 5 e 10 minutos conversando com alguém sobre sabe-se lá o que. Minha primeira reação foi de estranheza. Olhei pra trás, pros outros passageiros, esperando pra ver quem ia ser o primeiro a armar um barraco. Pelo menos, se fosse em Niterói, não esperaria menos. Afinal, era plena sexta feira, dia de trabalho. Mas o que eu vi quando me virei foi exatamente o oposto: estava todo mundo distraido, nem aí pro motorista lá fora, como se ainda estivéssemos andando. E foi assim durante todo o tempo em que o piloto estava fora. Algumas pessoas olhavam pra rua alheias à tudo, e cheguei a ver uma senhora puxar uma lixa da bolsa e começar a lixar a unha. Nem um comentário maldoso, nem mesmo um suspiro de indignação. Passados os minutos, o motorista voltou, soltou um breve comentário, e retomou seu lugar ao volante. E assim seguimos nosso caminho.
       Vim todo o resto do caminho pensando no incidente. Será que você, que está lendo meu blog, conseguiria manter a mesma serenidade que essas pessoas? Provavelmente elas tivessem mais motivos para reclamar que qualquer um de nós teríamos: eram, em sua maioria, trabalhadores domésticas ou de corporotivas, com chefes chatos e hora marcada, perdendo tempo do seu precioso horário de almoço. Mas agora me pergunto: serve também de alguma coisa perder tempo se estressando? Esse tipo de sentimento só faz mal a nós mesmos, acabando com nossa saúde e nos fazendo deixar de viver. A sabedoria dessas pessoas, mesmo que inconsciente, me tocou. Parece que aqui as pessoas vivem de verdade.
       Espero poder trazer um pouco dessas lições de volta comigo para a cidade, e que isso mude um pouco a maneira como lido com as questões do meu dia-a-dia. Não quero perder tempo com o que não é importante, afinal, a vida é repleta de coisas MAIS importantes.

As Sete Promessas de Eragon Matador de Espectros e Saphira Bjartskular

Apenas alguns meses atrás, Eragon usou pela primeira vez "brisingr", o termo na língua antiga para fogo. Desde então, aprendeu a fazer magia com palavras e passou por várias provações. Ele e Saphira escaparam vivos por pouco da colossal batalha contra os soldados do Império na Campina Ardente.
Há, no entanto, mais desafios no caminho do Cavaleiro e do dragão, pois Eragon se vê envolvido em uma rede de promessas que talvez não seja capaz de cumprir. Ajudar o primo Roran a resgatar sua amada Katrina do cativeiro imposto pelo rei Galbatorix é só uma delas.
Eragon ainda jura lealdade aos Varden - que necessitam urgentemente de suas habilidades e força -, aos elfos e aos anões. Quando a guerra iminente insufla os rebeldes e o perigo surge de todos os lados, o Cavaleiro precisa fazer escolhas que podem levá-lo a um sacrifício inimaginável.
Eragon é a maior esperança para libertar a Alagaësia da tirania. Será que esse jovem fazendeiro conseguirá unir as forças rebeldes e derrotar o rei?

       Brisingr era pra ser o último livro da Trilogia da Herança. Porém, ao escrevê-lo, Paolini percebeu que suas ideias para o final da saga não caberiam em apenas um livro, e resolveu escrever o final da série num futuro livro a ser lançado.
       Nascia, assim, o Ciclo da Herança.
       Brisingr é apaixonante, do começo ao fim. Paolini não tem medo de escrever o que quer, e a evolução da história é muito bem orquestrada.
       Assim como nos outros livros da série, Brisingr trata de assuntos sérios. Nesse volume, fica claro o foco na política, o que torna a leitura mais densa e o livro mais adulto.
       Assim como em Eldest, o autor deixa Eragon para os capítulos mais "cabeça", enquanto cabe a seu primo, Roran, encabeçar os capítulos repletos de ação.
       Essa mistura de pontos de vista torna a aventura fascinante. Me deliciei com a leitura, mesmo nos capítulos mais parados.
       No final, ambas as perspectivas se misturam num clímax de tirar o fôlego.
       Alguns capítulos podem parecer enrolação, mas não se deixe enganar. Tudo está no seu devido lugar. Paolini não deixa pontas soltas. Aprendemos muito sobre a Alagaësia nesses capítulos mais paradões. São neles que conhecemos mais da personalidade dos personagens, o que torna a história mais real, cheia sentimento e sentido. Afinal, em Eragon os personagens são muito verossímeis, munidos de questionamentos e sentimentos muito reais. Nos sentimos próximos de cada um deles.
       Enfim, Brisingr é um livro maravilhoso. Ao mesmo tempo que lia com afinco, ansioso por terminar, temia pelo término da trama. Eu queria mais, não queria terminar minha leitura. Era tudo tão bom entre suas páginas.
       A história é tão bem contada que há capítulos que nos deixam anciosos, excitados, e porque não, emocionados.
       O capítulo final é um deles. Devo admitir que estava chorando ao terminar a leitura do livro.
A Alagaësia continua linda. O Ciclo da Herança é, com certeza, a melhor série de livros que eu já li.
 
 Finalizo essa resenha com uma homenagem aos mestres Oromis e Glaedr, que passaram a ter um lugar especial no coração de todo fã de Eragon. O desenho é uma representação, feita por um artista desconhecido, do capítulo 'The Mourning Sage', quando Cavaleiro e Dragão se revelam ao mundo depois de 100 anos vivendo escondidos na floresta de Du Weldervarden.

Wall-E

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Introduzir uma resenha sobre os filmes da Pixar é sempre desafiador. A empresa parecer ter o dom de sempre nos surpreender com sua capacidade de fazer de forma perfeita filmes para crianças com uma profundidade tão adulta.
Wall-E foi o último desses filmes que eu assisti. Não foi o último a ser produzido pela Pixar, mas cheguei até mesmo a ver Up primeiro.
A trama se passa no ano de 2700 e o planeta se encontra soterrado pelo lixo produzido pela humanidade. Restou à população terrestre uma única alternativa: sair em cruzeiro espacial em uma nave munida de todo o conforto que a modernidade pode lhes oferecer enquanto pequenos robôs, incumbidos da árdua tarefa de limpar suas quinquilharias, permanecem na Terra. Todavia, devido ao estado precário do planeta, todos os robôs acabam por se degradar e param de funcionar. A única unidade ainda ativa é Wall-E. O simpático robô segue uma rotina de transformar todo o resto deixado pelos homens em cubos de lixo compactado, na companhia apenas de sua barata de "estimação" (a Pixar é a única empresa capaz de fazer até mesmo uma barata ser carismática! Eu particularme olho hoje com outros olhos paras as baratas da minha cidade). Rotina essa que só muda com a chegada de EVA, uma robô enviada à Terra com a missão de verificar vestígios de vida existentes no planeta. EVA logo desperta em Wall-E um grande amor, no sentido mais sincero e puro da palavra. A partir desse ponto o protagonista terá de encarar situações nunca vividas por ele para permanecer ao lado dela.



Tudo em Wall-E é cativante. Sua paixão cega pela robô EVA, a solidão, o interesse na humanidade, o jeito atrapalhado, os olhos tristes e ao mesmo tempo engraçados, e até mesmo a mudez. Não é necessário que ele faça nenhuma declamação para que saibamos exatamente o que ele pensa e sente, quais suas angústias e desejos. Como disse Érico Borgo, o pequeno autômato apaixonado é o Charles Chaplin da Pixar.
Para as crianças, fica uma animação graficamente espetacular.
Para os mais velhos, como eu, fica também um alerta: essa será a Terra daqui algum tempo se a tendência ao consumismo, a preguiça e ao sedentarismo continuar. O planeta não suportou a destruição que a presença humana lhe impôs. As gerações que viveram na nave Axiom foram, gradativamente, se acostumando a nenhum esforço, pois estavam cercadas da conveniente tecnologia para poupar qualquer trabalho, seja ele um simples gesto de pegar um objeto a mais de meio metro de distância. O resultado disso são adultos e crianças completamente obesos, incapazes de sair deste estado de inércia degradante. Não há como não se assustar com os edifícios feitos de lixo entulhado, nem de se deixar de se sentir culpado ao se dar conta de que você é também sujeito ativo nesse desequilíbrio em que reina a lei do menor esforço.

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