Adeus, Ano Velho! Feliz Ano Novo!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

       Diferentes culturas sempre comemoram a passagem do ano como um ritual festivo de representação do início de um novo ciclo de vida, novos acontecimentos, transformações. As primeiras comemorações tiveram início há cerca de 2 mil anos antes da era cristã, quando os antigos babilônios festejavam o recomeço do ciclo anual, época que coincidia, não por acaso, com o início da primavera no hemisfério norte e a plantação de novas safras. O ritual de comemoração do Ano Novo teve uma origem diretamente ligada à natureza, aos ciclos celestes e lunares e à agricultura. Daí veio a idéia de recomeço, preservada até os dias atuais. A comemoração do povo da Babilônia durava vários dias e equivaleria, hoje, ao dia 23 de março.
       A história da comemoração ocidental associa-se diretamente ao calendário romano, quando Júlio César decretou o 1º de janeiro como o Dia do Ano Novo em 46 a.C. O nome do mês derivado do deus Jano, que tinha uma face voltada para frente (visualizando o futuro) e outra para trás (visualizando o passado), o que empresta ainda mais significado à data.
       Datas a parte, o reveillon é o fim de um ciclo e início de outro. É o momento de aproveitarmos a oportunidade para rever nossos objetivos e enchermos o coração de esperança. É o momento de lembrarmos de tudo de bom que nos aconteceu, e também de nos fazer uma auto-crítica.
       Greve. 5 meses parado, e uma perspectiva de 2 anos seguidos de aula para reorganizar o calendário acadêmico. Pressões de todo lado. A vontade de conseguir um bom estágio, arrumar um emprego, e a dura realidade de um estudante de engenharia que ainda cursa seu 3° período. Medo de decepcionar aqueles com quem mais me importo, mesmo sabendo que estou dando o melhor de mim. Mas, acima de tudo, saber que 2012 me trouxe boas lembranças. Todos os momentos que passei com minha família, com meus amigos, com minha namorada, a lembrança de minha primeira viagem com Andressa, todos os momentos que vivi com ela, os abraços, os beijos, as brigas, o carinho. Todos os novos amigos que eu fiz, as amizades que mantive, o perdão de um amigo, e a coragem para mudar.
       2012 começou como eu mais queria, mas não terminou exatamente como eu pretendia. Dia 31 de dezembro, ápice das festividades, e cá estou eu preocupado com uma prova da faculdade. 2012 foi um ano de aprendizado, um ano em que senti na pele a força dos meus defeitos. Um ano em que vi meus medos tentando me dominar. Um ano em que senti as pressões que ser adulto trazem para nossa vida. Mas, acima de tudo, também foi um ano mágico. Foi o primeiro ano ao lado de alguém que foi devagarzinho tomando um espaço tão grande no meu coração, que hoje é difícil pensar no futuro e nao pensar nela.
             Obrigado a todos que fizeram de 2012 um ano em que agradeci pelo mundo não ter acabado no dia 21 de dezembro. Obrigado à Andressa, por ter estado sempre do meu lado, mesmo nos momentos em que eu fui mais chato, obrigado a minha mãe, ao meu irmão e a minha tia/avó, por nunca terem me deixado e por sempre me perdoarem, obrigado ao meu pai, que mesmo longe, nunca esteve em nenhum momento tão distante ao ponto de que não pudesse me socorrer, em todos os sentidos. Obrigado aos meus amigos, por me escutarem quando eu mais precisava falar, e obrigado ao Universo, por essa vida de possibilidades, por essa vida onde eu posso ir até onde tiver forças para sonhar.

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

       Responda rapidamente: quem você deletaria de sua memória sem pensar duas vezes? Proponho que você anote esse nome em algum lugar e vá assistir a O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, que levanta uma questão na qual as vezes pensamos: existem memórias ruins?
       Antes de mais nada, devo admitir que eu pouco conhecia do outro lado artístico de Jim Carrey: para mim seus filmes se resumiam à pastelões americanos, a lá O Máscara e Ace Ventura. Portanto, se não fosse por minha namorada, provavelmente nunca teria assistido a O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, e isso seria uma pena. Tanto o filme quanto a atuação de Jim Carrey foram uma surpresa extramamente positiva para mim.
       Joel Barish (Jim Carrey) é um cara tímido que arruma uma namorada, Clementine (Kate Winslet), cuja personalidade é oposta à dele. Mesmo assim, os dois começam a namorar e, juntos, constroem uma história. Todavia, depois de um tempo, veio aquele marasmo e os problemas ficaram mais freqüentes que os sorrisos, e o relacionamento termina. Sofrer por amor, porém, não é mais preciso. Basta ir à Lacuna Inc. e ter todas as memórias sobre determinada pessoa, animal, ou fato, deletadas de sua mente para sempre. Clementine resolve então contratar a empresa do doutor Howard Mierzwaik (Tom Wilkinson) para apagar da memória todos os momentos que viveu com Joel. Quando ele descobre a tramóia, não pensa duas vezes e contrata a empresa para fazer o mesmo serviço em sua mente, desta vez eliminando a ex-namorada, mas, durante a cirurgia, percebe que quer manter as memórias e faz de tudo para evitar que estas sejam removidas de seu cérebro. Joel começa então uma luta em sua própria mente para tentar não esquecer Clementine, levando-a para lugares em sua memória onde ela não esteve na verdade, assim escondendo-a do "deletamento" ao qual estava se submetendo.
       A princípio temos uma certa dificuldade para compreender exatamente o que está acontecendo, mas logo tudo vai ficando cada vez mais claro e mais interessante. O roteiro é louco, mas muito bem amarrado. Apesar de ficarmos um pouco perdido durante grande parte do filme, pensando nele aos poucos é possível perceber que tudo se encaixa maravilhosamente bem. Constantemente entramos dentro da mente de Joel na história, conhecendo o passado do personagem, o que pode confundir os menos atentos pelas constantes idas e vindas. Aliás, a atenção é um dos pontos importantíssimos que uma pessoa deve ter ao assistir Brilho Eterno.
       Ao longo do filme, momentos bons são contrastados com momentos muito ruins da relação, o que nos faz torcer por eles, pois é claramente possível ver o quanto os personagens se amavam antes da decisão de um deletar o outro. Isso torna o filme muito terno, sensível, tocante, pois sabemos que aquele tipo de situação está presente na vida de qualquer um. Deixando as besteiradas de lado, será que apagar uma pessoa da cabeça valeria realmente a pena? Será que, mesmo com todos os problemas dentre uma relação, o caminho mais fácil é simplesmente esquecer tudo o que já passou com a pessoa amada? Imaginem quantos filhos não iriam apagar seus pais da cabeça, quantas namoradas(os) iriam apagar namorados(as) por besteiras ou quantas histórias iriam sumir apenas por ser muito mais fácil esquece-las do que tentar vencer obstáculos? Será que se pudessemos recomeçar tudo de novo, faríamos tudo diferente? Nós somos quem nós somos, e a menos que deixemos parte de nossa personalidade para trás, a vida nos levará sempre ao mesmo lugar: nós mesmos.
         Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças não é somente uma experiência que brinca com a mente humana: é um filme triste. Portanto, se você resolver assisti-lo, prepare-se para ter vontade de entrar em suas próprias lembranças, buscando pessoas que passaram por sua vida e estão escondidos em cantos isolados de sua mente. E, claro, chegar à conclusão de que sempre devemos nos lembrar dos bons momentos que vivemos, não importa com quem, pois tudo que já aconteceu faz parte daquilo que nos fez ser quem somos hoje. Deixar o passado fluir, sem querer nos forçar esquecer aquilo que não pode ser esquecido, isso faz parte do amadurecimento.
       Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças pode não ser a escolha ideal para quem não gosta de ser desafiado a pensar.



 Entrelinhas

       Jim Carrey me provou que pode ser tambem um ótimo ator dramático, e o filme também conta com um ótimo elenco de apoio, formado por Elijah Wood, o Frodo de O Senhor dos Anéis (jamais ligaria os pontos se não checasse o elenco na internet) e Mark Ruffalo, o Hulk de Os Vingadores.

Adeus, Tropical

domingo, 23 de dezembro de 2012

De toda a cidade de Araraquara, um dos lugares que mais me traz lembranças boas é o diferente Shopping Tropical. Quando eu era pequeno, íamos quase todo fim de semana passear lá. O shopping era simplesmente lindo. Diferente do design desses shoppings modernos, que são sempre iguais, o Shopping Tropical tinha uma arquitetura toda particular: com algumas áreas descobertas, era amplo, mas só tinha dois andares.

Tudo Tem Seu Tempo

       A vida é uma sequência de momentos, experiências que não voltam mais. Parece triste pensar dessa maneira, mas a mágica da vida é justamente essa transformação. Não estamos presos a nada, e podemos ir até onde tivermos força pra sonhar.
       Como diz o ditado popular: recordar é viver. Conheço pessoas que não gostam de lembrar do passado, nem de rever fotos antigas; se entregam à tristeza e lamentam o tempo que passou. Acho que um dia eu já fui assim também (apesar da minha pouca idade), hoje não mais. O sentimento de nostalgia que sinto quando lembro de coisas que passaram não é de tristeza, mas de saudade de um tempo que passou, uma lembrança positiva, um misto de gratidão pelas coisas boas e pelos bons momentos que aconteceram, mas não um desejo de voltar de novo ao passado. Tudo tem sua fase, e toda fase tem seu momento. Eu não sou mais agora o mesmo que fui anos atrás e amanhã não serei mais quem eu sou hoje. Devemos honrar a memória do que passou, lembrar, nostálgicos, sim, mas felizes. Felizes também por estarmos em uma nova época, com seus próprios momentos, com suas próprias alegrias.
       A vida é o presente. Para sermos felizes precisamos não focar no futuro, nem ficarmos presos no passado. Fora do presente, só o essencial. Recordar para sorrir, pensar no amanhã apenas com aquilo que nos será necessário. De resto, viva o presente. A vida é, e está acontecendo agora.

Uma Jornada Inesquecível

sábado, 22 de dezembro de 2012

       O Hobbit: Uma Jornada Inesperada era, com certeza, um dos filmes mais esperados do ano. A ansiedade de acompanhar novamente a magia que marcou O Senhor dos Anéis em uma nova viagem pela Terra-Média era grande.
       Os hobbits são criaturas tranquilas, que adoram ficar em casa fumando cachimbo, e Bilbo não é diferente. Mas sua vida muda quando o mago Gandalf arranja um jantar surpresa na casa do hobbit e convida 13 anões sem avisá-lo. Eles planejam atravessar a Terra-Média, vencer um dragão e recuperar o reino perdido do príncipe anão Thorin. Por ser pequeno e silencioso, eles querem Bilbo no papel de ladrão na jornada. Sem querer, um espírito aventureiro é desperto dentro do pequeno hobbit e ele decide seguir jornada com os anões. Esse é só o início da maior aventura de sua vida.
       Após assistir Uma Jornada Inesperada, dá pra dizer sem medo que Peter Jackson conseguiu outra vez. Ele trouxe de volta a magia que já tinha encontrado e cultivado nos três filmes anteriores, mas não sem dar a este a atmosfera mais leve que ele deveria ter.
       O Hobbit é muito mais dinâmica do que a trilogia do anel, nele Tolkien não se perdeu em descrições e explicações: tudo é mais direto ao ponto, mais inocente e os alívios cômicos quase inexistentes na saga de Frodo são abundantes aqui. O Senhor dos Anéis tem um enredo muito mais complexo, desprovido de muito humor e com temas morais e filosóficos bem mais desenvolvidos. As diferenças entre as duas obras podem ser perturbadoras para alguns leitores, e você deve ter essa diferença clara em mente quando entrar na sala de cinema para ver o filme. Muitas dessas diferenças surgiram porque Tolkien escreveu O Hobbit como uma história para crianças, e O Senhor dos Anéis para o mesmo público, que posteriormente tinha crescido desde a sua publicação.
       No romance, muitas das cenas são extremamente curtas, de forma que se fossem representadas no filme não teriam mais que dois ou três minutos cada. Então a adição de falas e ações foram necessárias, além de modificações no enredo que procuram adequar cenas que não funcionariam tão bem no cinema quanto funcionaram no livro, como dar aos personagens propósitos mais profundos e mais bem explicados que na obra literária - os anões no livro querem apenas o ouro escondido na montanha, no filme eles querem recuperar o lar usurpado pelo dragão.
       Ficou claro nesse filme que a intenção de Peter em retornar a franquia não era a de só contar a história de Bilbo, mas, sim, de ligá-la e entrelaçar a trama com a do Senhor dos Aneis, já que Tolkien ao morrer ainda trabalhava tentando estabelecer as pontes entre as duas obras. Caso não saiba, quando Tolkien escreveu O Hobbit ele ainda não tinha em mente a história do SdA. Por esse motivo, vários dos elementos presentes na obra do hobbit e que não foram desenvolvidos nesse romance foram posteriormente retomados e desenvolvidos em o SdA.
       É justamente aqui que entra o toque mágico de Peter Jackson. Para ajudar a encorpar a história do filme (não estava claro como que o pequeno livro – de 298 páginas – renderia material para três longas de quase três horas cada) ele optou por adicionar diversas cenas não descritas no livro, mas contadas apenas no livro Contos Inacabados, compilação de histórias de Tolkien publicados após a sua morte. Todos se tratando de eventos que aconteceram antes, durante e depois de O Hobbit, mas que tinham contexto na história contada aqui. Gênial!  Peter Jackson, como bom fã, não está apenas adaptando o livro, mas sim dando continuidade ao trabalho de Tolkien.
       Outro problema que os roteiristas enfrentaram foi a completa ausência de um vilão neste primeiro filme. O dragão Smaug não tinha a possibilidade de fazer isso sem estragar completamente a obra, pois o trecho do livro presente no longa não mostra nada além da viagem dos anões até a Montanha Solitária. Desta forma Azog foi adicionado à trama. O rei orc de Moria foi introduzido de forma bem inteligente e serviu como um antagonista interessante, enquanto os outros dois vilões são apenas apresentados ao espectador: Smaug e o misterioso Necromante, cujo não temos nenhuma informação de importância no livro, mas que um dia viria a se tornar o maior inimigo da Terra-Média.
       A presença de Azog tornou Thorin um personagem mais complexo e fez suas motivações mais compreensíveis para o público, dando um plano de fundo a um personagem que no livro se sustenta apenas pelo que dizem dele e pelo pouco que é desenvolvido dentro da linha principal da história.
       A ação foi uma grata surpresa. Ela quase não existe no romance, então praticamente todas as cenas vistas em Uma Jornada Inesperada foram adicionadas para encorpar a obra e torná-la mais dinâmica. Funcionou e muito bem, os principais momentos do filme foram pautados por elas.
        Além dos personagens da trilogia anterior que reaparecem no filme, os atores que interpretam os anões se encaixaram na história como se tivessem de fato saído dela. Mas o destaque é todo para a interpretação magistral de Martin Freeman, que parece ter sangue de hobbit correndo nas veias.
       Tecnicamente, não há do que reclamar. As criaturas atingiram um nível incrível de perfeição. Os três trolls chegam a ser nojentos de verdade, enquanto wargs, goblins e orcs nunca estiveram tão fisicamente presentes, sem falar em Gollum, que retoma sua coroa como um dos melhores personagem 3D já criados, com um modelo ainda mais detalhado e capaz de mais nuances de expressão, na atuação ainda mais brilhante de Andy Serkis. Igualmente incríveis são os cenários fantásticos, como Valfenda e Erebor. Apesar disso, o filme peca pelo uso excessivo, talvez até necessário, da computação gráfica no lugar de atores e maquiagem.
       Enfim, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada funciona como filme e adaptação, mas faz mais que isso, ele dá ainda mais profundidade à uma Terra-Média que já havia sido bem detalhada nos três longas anteriores. Claro, o filme não tem todo aquele clima épico do Senhor dos Anéis, mas se trata apenas da introdução da aventura de Bilbo e dos anões. Que venham os próximos capítulos dessa jornada inesquecível!


 
Entrelinhas

       Assistir O Hobbit na mais nova tecnologia HFR é uma experiência ainda mais realista.
       A resolução em 48 quadros por segundo nos dá uma clareza de imagem e movimento tamanha, que nos sentimos como na primeira vez que assistimos uma imagem em HD nas televisões convencionais LCD. Vale a pena dar uma conferida, O Hobbit é quase hiper-realista nessa versão. Tem hora que não sabemos se estamos ainda na sala de projeção ou se se estamos correndo e lutando junto com Bilbo e os anões.


Anonymous

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

       Fiquei sabendo de Anônimo (Anonymous, no original) por puro acaso: estava descompromissadamente vendo um trailer do filme "O Hobbit" quando vi o link do teaser deste filme em um dos vídeos relacionados.
       O trailer chamou bastante a minha atenção. Adoro teorias alternativas sobre a verdade por trás de grandes nomes ou eventos da história da humanidade. E é justamente uma destas histórias que esse filme nos dá o prazer de conhecer.
       E se William Shakespeare, o autor teatral mais conhecido e encenado de todos os tempos, não fosse, exatamente, William Shakespeare? Ou melhor, se o autor de todas aquelas peças e sonetos escritos em inglês e que ganharam o mundo com o nome de William Shakespeare fosse outra pessoa? Anônimo abraça a teoria de uma corrente de estudiosos e historiadores, mais precisamente a lançada por John Thomas Looney, em 1922, que afirma que o homem nascido e criado em Stratford-upon-Avon e que, aos 18 anos, mudou-se para Londres para dedicar-se à carreira de ator, não poderia ter escrito todas aquelas obras-primas do teatro. O homem por trás de Hamlet, Romeu e Julieta e todas as demais peças era, na verdade, Eduardo de Vero, conde de Oxford.



"Nosso Shakespeare é um enigma, um fantasma."

       Somos levados de volta à Londres do final do século 16 e início do século 17, quando o teatro popular estava em plena efervescência. Nessa época, pessoas da aristocracia não tinham espaço para ser irônicos, críticos ou mesmo artísticos, como mostra claramento o filme. Essas pessoas deveriam preocupar-se com outros temas, muito mais “sérios”. Isso explica porque uma pessoa como Oxford, com uma formação exemplar, teria que “esconder-se” por trás de um outro autor.    
       No início da narrativa, Eduardo de Vero (Rhys Ifans) é levado pelo lorde de Southampton (Xavier Samuel) a conhecer o teatro The Globe. Eduardo fica fascinado com a reação do público, a cenografia, a dinâmica das cenas (muito diferente do que era visto na côrte naquela época), e com o trabalho do autor da peça, Ben Jonson, talentoso dramaturgo cujas peças mordazes não são vistas com bons olhos pelas autoridades do seu tempo.
       Preso justamente por esse motivo, Ben teria sido libertado posteriormente pelo conde de Oxford em troca de um grande favor: que ele levasse um de seus textos para ser encenado pelo grupo teatral de Jonson, o Lord Chamberlain’s Men. A partir daí, nos deliciamos com os bastidores do teatro e o surgimento das peças de “Shakespeare”, mesclados com intrigas políticas na disputa pela sucessão do trono da rainha Elizabeth I, a Rainha Virgem.
       Um acerto do filme é citar alguns trechos e reproduzir encenações feitas na época das obras encenadas pelo grupo teatral de Shakespeare. Uma imersão interessante e inédita. Outro acerto do filme é equilibrar sempre os bastidores do teatro com os da côrte. Há disputa, talento e intrigas nestas duas frentes. Traições, disputas, inveja, cobiça, elementos presentes na obra de “Shakespeare”, estão espalhadas também pelo retrato feito daquela Londres efervescente. Algo interessante da produção também é a sua convicção em defender a ideia de que palavras podem provocar revoluções e mudar realidades.
       Infelizmente, o roteiro se mostra um pouco confuso no início. Ainda que o filme inteiro desperte interesse, ele não facilita muito a vida do espectador para entender as relações entre os personagens, que são bem confusas no início: demoramos muito tempo para fazer estas ligações e ligar os nomes às pessoas. O diretor parece ter encontrado dificuldade em conjugar os diferentes tempos do enredo, apresentando flashbacks dentro de outros flashbacks, que apenas confundem o espectador em relação à narrativa e aos personagens. Felizmente, estas são melhor explicadas ao longo do filme, para enfim conseguirmos ligar todos os pontos no ato final.
       Outra coisa que me chamou a atenção foi o exagero na sátira de William Shakespeare, que aparece como uma figura unidimensional, um indivíduo sem escrúpulos, inculto e de mau carácter. Achei ele muito estereotipado. Aparece apenas como um ator fanfarrão que gosta de beber, farrear com prostitutas e que sabe aproveitar a oportunidade para tornar-se famoso por algo que não fez. Havia uma outra parte de sua vida privada, historicamente inconstetável, que acabou sendo totalmente ignorado pelo filme.
       Apesar destas duas observações, o filme é fantástico, conquistador e apaixonante. Rhys Ifans está surpreendente como Edward de Vere, um indivíduo solitário e introvertido, um gênio da escrita que tem de reprimir o seu talento. Fiquei surpreso ao descobrir que este mesmo ator interpretou o vilão Lagarto no filme The Amazing Spider-Man.
       A direção de arte e fotografia é linda. Muitas cenas parecem ter sido tiradas de quadros pintados na época. Realmente impressionante.
       O alemão Roland Emmerich, mais conhecido por “filmes-catástrofe”, como 2012, The Day After Tomorrow, Godzilla e Independence Day, me surpreendeu com este Anônimo. Nos mostrou que pode fazer um cinema muito mais sério e “profundo”.
       Aprecie ou não a teoria oxfordiana exagerada em Anonymous, a verdade é que o filme conseguiu fazer algo que poucas obras de Emmerich foram capazes: deixar o público a pensar.



Entrelinhas

       Anonymous toca em um tema polêmico e interessante, e está ambientado em uma época igualmente rica em informações curiosas. Fiquei muito curioso e interessado em saber mais a respeito. Encontrei alguns textos que podem servir de ponto de partida para quem também ficou curioso para saber um pouco mais.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Identidade_de_Shakespeare
       Neste texto da Wikipédia é possível encontrar um compêndio de informações sobre as duas correntes desta polêmica sobre a obra de Shakespeare: aquela que defende que os trabalhos atribuídos a ele foram de fato de sua autoria, e aquela que aponta outros possíveis autores.
       Para os que ficaram curiosos para saber mais sobre a era elisabetana, recomendo este texto da Wikipédia sobre os costumes e e características daquela época, e este outro focado exclusivamente na história de Elizabeth I.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_Elisabetano
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_I_de_Inglaterra


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