Anonymous

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

       Fiquei sabendo de Anônimo (Anonymous, no original) por puro acaso: estava descompromissadamente vendo um trailer do filme "O Hobbit" quando vi o link do teaser deste filme em um dos vídeos relacionados.
       O trailer chamou bastante a minha atenção. Adoro teorias alternativas sobre a verdade por trás de grandes nomes ou eventos da história da humanidade. E é justamente uma destas histórias que esse filme nos dá o prazer de conhecer.
       E se William Shakespeare, o autor teatral mais conhecido e encenado de todos os tempos, não fosse, exatamente, William Shakespeare? Ou melhor, se o autor de todas aquelas peças e sonetos escritos em inglês e que ganharam o mundo com o nome de William Shakespeare fosse outra pessoa? Anônimo abraça a teoria de uma corrente de estudiosos e historiadores, mais precisamente a lançada por John Thomas Looney, em 1922, que afirma que o homem nascido e criado em Stratford-upon-Avon e que, aos 18 anos, mudou-se para Londres para dedicar-se à carreira de ator, não poderia ter escrito todas aquelas obras-primas do teatro. O homem por trás de Hamlet, Romeu e Julieta e todas as demais peças era, na verdade, Eduardo de Vero, conde de Oxford.



"Nosso Shakespeare é um enigma, um fantasma."

       Somos levados de volta à Londres do final do século 16 e início do século 17, quando o teatro popular estava em plena efervescência. Nessa época, pessoas da aristocracia não tinham espaço para ser irônicos, críticos ou mesmo artísticos, como mostra claramento o filme. Essas pessoas deveriam preocupar-se com outros temas, muito mais “sérios”. Isso explica porque uma pessoa como Oxford, com uma formação exemplar, teria que “esconder-se” por trás de um outro autor.    
       No início da narrativa, Eduardo de Vero (Rhys Ifans) é levado pelo lorde de Southampton (Xavier Samuel) a conhecer o teatro The Globe. Eduardo fica fascinado com a reação do público, a cenografia, a dinâmica das cenas (muito diferente do que era visto na côrte naquela época), e com o trabalho do autor da peça, Ben Jonson, talentoso dramaturgo cujas peças mordazes não são vistas com bons olhos pelas autoridades do seu tempo.
       Preso justamente por esse motivo, Ben teria sido libertado posteriormente pelo conde de Oxford em troca de um grande favor: que ele levasse um de seus textos para ser encenado pelo grupo teatral de Jonson, o Lord Chamberlain’s Men. A partir daí, nos deliciamos com os bastidores do teatro e o surgimento das peças de “Shakespeare”, mesclados com intrigas políticas na disputa pela sucessão do trono da rainha Elizabeth I, a Rainha Virgem.
       Um acerto do filme é citar alguns trechos e reproduzir encenações feitas na época das obras encenadas pelo grupo teatral de Shakespeare. Uma imersão interessante e inédita. Outro acerto do filme é equilibrar sempre os bastidores do teatro com os da côrte. Há disputa, talento e intrigas nestas duas frentes. Traições, disputas, inveja, cobiça, elementos presentes na obra de “Shakespeare”, estão espalhadas também pelo retrato feito daquela Londres efervescente. Algo interessante da produção também é a sua convicção em defender a ideia de que palavras podem provocar revoluções e mudar realidades.
       Infelizmente, o roteiro se mostra um pouco confuso no início. Ainda que o filme inteiro desperte interesse, ele não facilita muito a vida do espectador para entender as relações entre os personagens, que são bem confusas no início: demoramos muito tempo para fazer estas ligações e ligar os nomes às pessoas. O diretor parece ter encontrado dificuldade em conjugar os diferentes tempos do enredo, apresentando flashbacks dentro de outros flashbacks, que apenas confundem o espectador em relação à narrativa e aos personagens. Felizmente, estas são melhor explicadas ao longo do filme, para enfim conseguirmos ligar todos os pontos no ato final.
       Outra coisa que me chamou a atenção foi o exagero na sátira de William Shakespeare, que aparece como uma figura unidimensional, um indivíduo sem escrúpulos, inculto e de mau carácter. Achei ele muito estereotipado. Aparece apenas como um ator fanfarrão que gosta de beber, farrear com prostitutas e que sabe aproveitar a oportunidade para tornar-se famoso por algo que não fez. Havia uma outra parte de sua vida privada, historicamente inconstetável, que acabou sendo totalmente ignorado pelo filme.
       Apesar destas duas observações, o filme é fantástico, conquistador e apaixonante. Rhys Ifans está surpreendente como Edward de Vere, um indivíduo solitário e introvertido, um gênio da escrita que tem de reprimir o seu talento. Fiquei surpreso ao descobrir que este mesmo ator interpretou o vilão Lagarto no filme The Amazing Spider-Man.
       A direção de arte e fotografia é linda. Muitas cenas parecem ter sido tiradas de quadros pintados na época. Realmente impressionante.
       O alemão Roland Emmerich, mais conhecido por “filmes-catástrofe”, como 2012, The Day After Tomorrow, Godzilla e Independence Day, me surpreendeu com este Anônimo. Nos mostrou que pode fazer um cinema muito mais sério e “profundo”.
       Aprecie ou não a teoria oxfordiana exagerada em Anonymous, a verdade é que o filme conseguiu fazer algo que poucas obras de Emmerich foram capazes: deixar o público a pensar.



Entrelinhas

       Anonymous toca em um tema polêmico e interessante, e está ambientado em uma época igualmente rica em informações curiosas. Fiquei muito curioso e interessado em saber mais a respeito. Encontrei alguns textos que podem servir de ponto de partida para quem também ficou curioso para saber um pouco mais.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Identidade_de_Shakespeare
       Neste texto da Wikipédia é possível encontrar um compêndio de informações sobre as duas correntes desta polêmica sobre a obra de Shakespeare: aquela que defende que os trabalhos atribuídos a ele foram de fato de sua autoria, e aquela que aponta outros possíveis autores.
       Para os que ficaram curiosos para saber mais sobre a era elisabetana, recomendo este texto da Wikipédia sobre os costumes e e características daquela época, e este outro focado exclusivamente na história de Elizabeth I.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Per%C3%ADodo_Elisabetano
http://pt.wikipedia.org/wiki/Isabel_I_de_Inglaterra


1 comentários:

Andressa Feijóo disse...

Nossa, amor! Amei! Londres efervescente ahaha que fofo você! Retratou bem o filme, parabéns meu amor!

Será que é verdade mesmo? ahaha

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