Capitão América 2 O Soldado Invernal

terça-feira, 20 de maio de 2014

Esperei passar um pouco da euforia da estréia para escrever sobre Capitão América 2: O Soldado Invernal. Fui com muitas expectativas para o cinema, o que nem sempre é bom, diga-se de passagem, pois o filme estava sendo muito elogiado pela crítica internacional e nacional. Vi muita gente dizendo que este é o melhor filme da Marvel, superando até mesmo Os Vingadores. Mas será que o segundo filme solo do Capitão é tudo isso mesmo?

             "Dois anos após os acontecimentos em Nova York (Os Vingadores), Steve Rogers (Chris Evans) continua seu dedicado trabalho com a agência S.H.I.E.L.D. e também segue tentando se acostumar com o fato de que foi descongelado e acordou décadas depois de seu tempo. Em parceria com Natasha Romanoff (Scarlett Johansson), também conhecida como Viúva Negra, ele é obrigado a enfrentar um poderoso e misterioso inimigo chamado Soldado Invernal, que visita Washington e abala o dia a dia da S.H.I.E.L.D., ainda liderada por Nick Fury (Samuel L. Jackson)."


           
            A trama do segundo filme do sentinela da liberdade é baseada no arco de histórias escrito por Ed Brubaker. O filme é uma ótima adaptação do clima de espionagem dessa fase do personagem, mas não segue a trama da qual se originou. A Marvel adaptou bem esse arco dos quadrinhos para o Universo que ela estava construindo nos cinemas, e, apesar de tramas bem distintas, isso em momento algum pode ser dado com um ponto negativo, pois até quem já leu essas histórias específicas do personagem vai ser pego de surpresa pelas revelações arrebatadoras do filme. O título Capitão América 2: O Soldado Invernal, é apenas uma cortina de fumaça pra tirar o foco dos espectadores daquilo que o filme realmente se propõe, só para quando você menos esperar, acontecer o que você menos imaginaria. E prepare-se, pois esse filme abala todo o universo cinematográfico Marvel, e não só a série de televisão Marvel's Agents of Shield ou os futuros filme do estúdio como Os Vingadores 2, mas também todos os filmes anteriores do estúdio, desde Homem de Ferro 2 à Vingadores, pois depois de assistir o Soldado Invernal você vai conseguir assistir a todos eles sob uma ótica que você não seria capaz anteriormente. Isso tudo que estou falando agora pode ficar meio jogado sem dar spoilers, mas a graça do filme está justamente em ir assisti-lo sem saber o que esperar, e depois de assistir você vai entender exatamente do que estou falando.

Pontos Altos

            Mas vamos direto aos pontos altos do filme. Pra início de conversa, as cenas de ação estão de tirar o fôlego. Conseguimos acompanhar cada movimento dos personagens, e quem lê os quadrinhos vai vibrar cada vez que o Capitão ricochetear o escudo em algum lugar pra atingir seus adversários. E ao contrário de alguns blockbusters nos quais os roteiros são meras desculpas para a criação de cenas de ação elaboradas, e na maioria dos casos impossivelmente confusas, aqui as cenas de ação são consequência direta da trama que está sendo desenvolvido, e, o mais importante, conseguimos acompanhar e entender tudo o que está acontecendo em tela.
            O Capitão América também está mais ágil e forte do que nunca. E isso é louvável. Uma das minhas principais críticas à representação do personagem nos filmes anteriores é que ele ficou muito aquém do seu verdadeiro potencial. O Capitão América dos Vingadores não se mostrava forte o suficiente, e não digo apenas em caráter físico, para liderar os Vingadores. Aqui, finalmente vemos porque esse cara é o líder de uma equipe de super seres. Não apenas vemos ele lutando pra caramba, mostrando que o cara pode enfrentar no mano a mano quase qualquer outro super-herói, mas vemos também a moral inerente do personagem; a personalidade que o faz um ícone e um símbolo num universo repleto de super-heróis.  Sua busca em se localizar em um mundo cuja moral é retratada por tons cada vez mais cinzentos é o seu conflito principal. E Chris Evans consegue manter esse semblante honesto e decisivo, mas sem jamais confundir o altruísmo natural de Rogers com ingenuidade.
            E Da mesma forma que o primeiro filme do Capitão América conseguiu usar o patriotismo inerente do personagem de forma natural, no contexto de uma guerra, sem irritar quem não nasceu na terra do Tio Sam, o novo longa vai além. Ele usa o fato de Steve ser um homem com um conjunto de valores muito sólidos, porém datados, para discutir de forma crítica o atual estado político dos EUA. Sobretudo a constante política do medo disfarçada como segurança implementada após o 11 de setembro, e isso acaba sendo o tema central do longa, pois para um cara que lutava por uma idealizada liberdade, não é fácil aceitar nossos cínicos tempos de vigilância massiva e ataques preventivos.
            E isso nos leva a outro dos pontos altos do filme: o roteiro. Uma das melhores qualidades do longa foi o de elevar os filmes de super-herói, principalmente os da Marvel, a um outro patamar. Capitão América 2 é um filme com várias camadas, que pode ser usado para se discutir política, espionagem, moral, teorias da conspiração, e até mesmo confiança. Ele consegue ir além de um mero entretenimento. E isso foi algo que me aliviou muito, pois como disse depois de assistir Thor 2, estava com medo da famosa "fórmula Marvel" começar a ficar repetitiva. Mas apesar de O Soldado Invernal ser um filme sério, ele não deixa de ter as famosas tiradas cômicas da Marvel, só que aqui elas foram bem mais bem colocadas. E quando digo que o roteiro desse filme é muito bom, não estou querendo dizer que a trama e os eventos do filme nunca foram retratados antes no cinema, mas é muito bom ver esses elementos em um filme blockbuster de 200 milhões de dólares, feito para o grande público.
            A atuação de todo o elenco também está muito boa, desde Chris Evans e Scarlett Johansson, que compartilham uma ótima química em tela, até o novato Anthony Mackie, que interpreta o personagem Falcão, personagem esse que foi maravilhosamente inserido no filme. Pra quem não sabe, Falcão é o codinome de Sam Wilson, heróis que nos quadrinhos é parceiro de Steve. O personagem foi uma bela adição ao rol de heróis cinematográficos da Marvel, apresentando um herói mais alto-astral e melhor resolvido que a maioria, e com um visual sensacional. A amizade entre os dois foi muito bem desenvolvida no filme, apesar do pouco tempo pra isso, e as suas cenas de ação e vôo ficaram incrivelmente críveis e bonitas. Samuel Samuel L. Jackson é outro que teve mais tempo em tela neste filme. Além da boa atuação do ator, finalmente temos o desenvolvimento da personalidade de Nick Fury; aquele Nick Fury dos quadrinhos que faz o que acha certo para defender as pessoas de seus país, não importa quais sejam os efeitos colaterais. Ah, e finalmente podemos ver um pouco do super espião em ação.
            E como não falar do Soldado Invernal em si. O personagem pode não ter muito tempo propriamente dito em tela, pois como disse, ele é apenas um subterfúgio usado pelo verdadeiro antagonista, mas esse tempo foi o suficiente para uma apresentação deveras marcante e carismática do personagem, trazendo a intensidade certa ao antagonista-título, cuja relação com o Capitão América pode não ser uma surpresa para os fãs, mas pode chocar os não iniciados.
            Ah, e só pra não passar em branco, a trilha sonora também é muito boa, sendo épica em vários momentos.

Pontos Baixos

            Como nem tudo são flores, claro que o filme não deixa de ter alguns daqueles clichês do gênero, como soluções simplistas e algumas coisas que acontecem "porque sim" e na hora mais conveniente, mas nada que comprometa o filme. Não me senti incomodado em nenhum momento.
            Algumas pessoas também acharam que o passado do Soldado Invernal ficou muito nebuloso, e que para quem não leu os quadrinhos talvez tenha ficado confuso entender afinal quem ele é e qual a sua verdadeira origem, principalmente qual é a da estrela vermelha em seu braço. Mas acho que isso foi intencional, pois o foco do filme acaba sendo outro e o personagem é usado apenas como uma arma. Acredito que saberemos mais do personagem em Capitão América 3, pois o próprio final do filme deixou bem claro que esse vai ser o mote do próximo filme solo do herói.

O Veredicto

            Reviravoltas, uma teoria da conspiração nada fictícia e de dar medo, mensagens maravilhosas e muitas, muitas referências ao universo da editora que vão pirar os fãs de quadrinhos, Capitão América 2 mistura o impacto visual de um blockbuster quadrinístico com um roteiro inteligente, e mostra que a definição de vilão pode partir apenas de um ponto de vista. Enfim, O Soldado Invernal é talvez o melhor filme da Marvel, pois se não é tão grandioso quanto os Vingadores, é o roteiro mais maduro do estúdio até agora.

Entrelinhas

            Vi muita gente reclamando daquela máxima do vilão sempre contar o plano pro mocinho em filmes de heróis. Eu tenho um argumento pra defender esse fato. Pensa comigo: se você faz um plano mirabolante para derrotar o cara que é seu maior inimigo, você vai simplesmente matá-lo, sem jogar na cara dele toda a genialidade de seu ato? Quem busca vingança sente prazer em mostrar ao inimigo a sua superioridade e como ele o superou de todas as formas possíveis, e não há graça nenhuma nisso sem uma platéia para aplaudi-lo. Vilões de quadrinhos não são meros peões que são pagos pra "apagar" alguém, são pessoas que tem os planos constantemente frustrados pelo herói, e é óbvio que vão querer se vingar. E a vingança nunca é algo feito muito com a cabeça, pois há uma dose de sentimento aí. E claro, nenhum vilão conta que o herói vai conseguir escapar, porque na vida real poucas vezes você escapa quando é pego por alguém, então que diferença faz saber do plano? Você já perdeu mesmo. Acontece que pra esse tipo de filme continuar, o mocinho tem que escapar. Mas isso é algo necessário ao roteiro, e não algo que torna o vilão estúpido.
            Ah, e não sei se isso foi exclusivo do meu cinema, e pode parecer besteira, mas o fato de finalmente não ter que assistir ao filme com legendas brancas que as vezes se confundem com o cenário, fez uma puta diferença!

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