A Origem Secreta do Natal

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Já faz um tempo que não escrevo aqui no site. Culpa do final de período na faculdade, e de procrastinação mesmo de minha parte. Mas eu desanimei do projeto de resenhas, e estou começando novos projetos. Ao invés de resenhar sobre todo filme/livro/série que assisto, coisa que você mais encontra pela net, vou postar textos de recomendações, e deixar as resenhas apenas quanto eu quiser falar mais do que essas poucas linhas permitam. Também vou focar em textos de divulgação de informações de conhecimento geral. E vou começar esse novo projeto com esse texto A Origem Secreta do Natal. Quem me conhece sabe que sou muito curioso, e aproveitando o clima natalino resolvi procurar a origem do natal e de seu maior ícone comercial: Papai Noel. Mas, com a liberdade de expressão que a internet nos proporciona, todo mundo fala o que quer, e foi difícil separar o que é mito do que é real. Foi pensando em quem não tem a paciência necessária pra ir de site em site, conferir as fontes, ver o que bate e o que não bate, que escrevi esse texto, que é quase que um índice sintetizando tudo o que você precisa (ou não) saber de forma breve a respeito da origem da festa e o do nosso Bom Velhinho.
            Quando vamos falar da origem do natal tudo é incerto, a começar pela data. Segundo os historiadores que estudam o tema, a origem da comemoração e seus símbolos são muito mais pagãos que cristãos. Conforme diz Pedro Paulo Funari, professor de história e arqueologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o Natal é derivado de uma festa muito anterior ao cristianismo e ao calendário do ciclo solar. De acordo com o pesquisador, os pagãos comemoravam na época do solstício de inverno (o dia mais curto do ano e que, no hemisfério norte, ocorre no final de dezembro) porque os dias iriam começar a ficar mais longos. "É uma celebração que tem a ver com o calendário agrícola, originalmente. E, como todo calendário agrícola, ele está preocupado com a fertilidade do solo e a manutenção do ciclo da natureza", diz o professor. Em Roma, essa data era associada ao deus Sol Invictus, já que após o dia mais curto do ano o sol volta a aparecer mais.
            Quanto ao cristianismo, nenhum estudioso consegue apontar com precisão o dia do nascimento de Jesus. O natal cristão começou a ser comemorado nessa data a partir do século IV, quando o imperador Constantino deu fim à perseguição contra essa religião. Os religiosos então começaram a usar a comemoração pagã e a revestiram com simbolismo cristão. Foi uma jogada interessante, pois eles usaram uma data que já era comemorativa para os povos pagãos, enquanto a revestiam com a simbologia que lhes interessava. No final do mesmo século, afirma o pesquisador, como a Igreja ganha poder, ela passa a perseguir os pagãos que comemoravam a festa da forma original. Nasce, então, a tradição do natal cristão.
            Também segundo Funari, a troca de presentes é um ato comum a todos os povos, independente do capitalismo ou de religião. Esse ato, desse ponto de vista, é muito mais ligado ao reforço de laços sociais entre as pessoas. No cristianismo, a troca foi associada simbolicamente aos reis magos, que teriam dado presentes ao menino Jesus - em alguns países, como na Espanha, é comum dar presentes apenas no Dia de Reis.
            Contudo, durante o século XX, a festa foi perdendo muitas de suas características religiosas (mas não todas) e hoje se apresenta de forma muito mais comercial. "Desvencilhou-se bastante da imagem original (religiosa) para que pessoas, países e povos não cristãos, como os japoneses, também sejam incentivados a ter troca de presentes nesse período", diz Funari, que lembra que muitas pessoas que não são religiosas e até ateus participam de festas de Natal. "Sabendo-se que as pessoas têm como princípio o estreitamento de vínculos sociais em geral e dentro da família em especial, o capitalismo explorou isso, digamos assim, ao extremo. A troca de presentes na escala moderna é uma invenção do capitalismo. Originalmente, a troca de presentes não estava ligada à tradição do Natal, pelo menos não à festa original."
            Mas e quanto ao Papai Noel? Há muitos anos circula a história de que o Papai Noel, com suas barbas brancas e roupas vermelhas, seria uma criação da fábrica de refrigerantes Coca-Cola. Vários sites e blogs de relevância apontam que em 1930, a Coca-Cola Company teria feito uma campanha de marketing e, pela primeira vez, mostrado ao mundo o agora famoso Santa Claus. Mas a verdade é que, apesar de muitos acharem que a Coca-Cola “criou” o Papai Noel, na verdade o que a marca fez foi padronizar a sua imagem. Até 1931, o bom velhinho era caracterizado das mais diversas formas, e suas vestimentas nas mais diversas cores. Com a campanha da Coca-Cola foi criado um padrão universal – inclusive a inclusão do gorro vermelho com pompom branco é creditada à empresa.
            Em parte, o mito do bom velhinho foi inspirado em São Nicolau, um bispo católico que viveu no século 4 na cidade de Mira, atual Turquia. "Ele ficou conhecido em todo o Oriente por sua bondade e pela atenção com as crianças", afirma o frei Luiz Carlos Susin, professor de teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Diz a lenda que Nicolau presenteava as crianças no dia de seu aniversário, em 6 de dezembro. Nos séculos seguintes, o mito se espalhou pela Europa e a data da entrega de presentes acabou se confundindo com o nascimento de Cristo. "Quando a história chegou à Alemanha, no século 19, o velhinho ganhou roupas de inverno, renas, um trenó de neve e uma nova casa: o Pólo Norte", afirma Luiz.
            Nessa época, Noel ainda era representado como um homem alto e magro com roupas que variavam de cor - dependendo do relato, elas eram azuis, amarelas, verdes ou vermelhas. O mito chegou aos EUA e foi ganhando novas características. Em 1823, o até então desconhecido professor americano Clement Clarke Moore conseguiu que um poema seu, chamado The Night Before Christmas, fosse publicado  anonimamente num jornal e, a partir de então, seu texto se tornou uma dos maiores símbolos do Natal, principalmente na América do Norte. Esse texto difundiu pelos EUA a descrição de um velhinho bochechudo que vinha em um trenó e entrava nas casas pela chaminé. Quase 20 anos mais tarde, em 1863, o cartunista americano Thomas Nast criou a imagem do Noel quase igual à que conhecemos hoje, com a silhueta rechonchuda, o rosto barbudo e os trajes vermelhos. Seu trabalho foi parar na capa da revista Harper’s Weekly.


                Vários artistas foram recriando e redesenhando esse símbolo do Natal com o passar dos anos. Cada um, dando seu toque pessoal ao Papai Noel. O Bom Velhinho foi inclusive utilizado em peças publicitárias em 1915 por uma empresa de água mineral chamada White Rock Beverages.
            E é apenas em 1931 que a Coca-Cola entra na história. A empresa sentia necessidade de impulsionar o consumo de sua bebida numa época de baixo consumo. Com este objetivo, o desenhista Haddon Sundblom retomou a ideia de um velhinho que entregava presentes. A marca queria criar uma imagem de Papai Noel saudável e amigável. O pedido da empresa foi atendido e assim surgiu o Papai Noel caloroso, amigável, agradavelmente gordo e humano, pintado por Haddon. Contudo, engana-se quem pensa que a cor vermelha das vestes é criação da marca. O Papai Noel já tinha essa cor antes mesmo das primeiras campanhas publicitárias da empresa.
            De 1931 a 1964, a Coca-Cola veiculou a imagem do Papai Noel em revistas, jornais, painéis e cartazes nos Estados Unidos. As propagandas sempre retratavam o bom velhinho entregando presentes e fazendo uma pausa para ler as cartinhas das crianças e tomar uma Coca-Cola. A série de comerciais que mostrava Noel metido em situações engraçadas para entregar seus brinquedos rodou o mundo, popularizou essa imagem e, claro, turbinou as vendas do refrigerante. O Papai Noel como objeto propaganda no natal acabou tomando uma dimensão muito maior da prevista ao obter um grande sucesso em diversas campanhas de natal. Por este motivo, todas as associações de comerciantes e as diversas empresas começaram a perceber o potencial propagandístico de vendas e consumo que o personagem tinha. Alavancados pelo frenesi de vender e ganhar fazendo consumir, passaram a utilizá-lo como marca numa escala mundial. Ou seja, a Coca-Cola não criou o Papai Noel, o que ela fez foi associá-lo fortemente à sua marca e ao capitalismo, difundindo-o ao redor do mundo globalizado. Realmente, se não fosse pela empresa, dificilmente hoje nós, brasileiros, veríamos tantos velhinhos de vermelho na época de natal. "Se você for olhar os jornais brasileiros do início do século XX, no período do Natal, você encontrará referências ao presépio(...) não se fala em Papai Noel", diz Funari.

A primeira campanha da Coca-Cola usando o Papai Noel como garoto propaganda da empresa

 Duendes?

            "O Papai Noel leva presentes de Natal para as crianças, mas com uma condição que não pode ser quebrada: elas têm de se comportar durante o ano. A lenda diz que as crianças são monitoradas por alguns duendes durante o ano todo. Com a aproximação do Natal, os ajudantes do Papai Noel fazem uma lista com os nomes das crianças boas." Isso todo mundo sabe. Porém o que pouca gente sabe é que originalmente em diversos países essa função era atribuída a um ser demoníaco conhecido por Krampus.
            O Krampus é uma criatura de aparência horripilante que habita a imaginação européia através do folclore na Áustria, Alemanha, Alsácia,  Suíça, Eslovênia, e demais áreas  das montanhas alpinas. 
            De acordo com as lendas, Krampus começa as festividades do Natal na noite do dia 5 de dezembro.  Ele é um companheiro de nosso querido Papai Noel. Krampus é seu contraponto, e ao invés de dar presentes às criancinhas das aldeias, anda sem objetivo nas ruas, arrastando pesadas correntes de ferro, invade as casas das pessoas e retira delas as crianças que não foram boazinhas para puni-lás.


            Assustador não? Mas essa figura folclórica  não é nada mais do que a inserção nas festividades natalinas de um demônio bastante conhecido nessas regiões e já temido por todos. Antes do surgimento do Cristianismo, existia na Europa uma grande variedade de lendas associadas à realização de festejos e sacrifícios para honrar as divindades, para que no próximo ano a colheita fosse farta. Essas mesmas divindades acabaram sendo incorporadas pelo cristianismo. Ele aparece lado a lado com o mais bondoso dos santos, aquele que distribui presentes às crianças.  Assim, ajuda a equilibrar as forças do bem e do mal, servindo como um freio social, como um lembrete de que  as  crianças precisam ser boazinhas e comportadas para ganharem presentes de Natal. Foi uma maneira inteligente de manter em cheque as crenças pagãs que teimavam em não desaparecer.
            Até hoje, tradicionalmente, jovens rapazes das regiões Alpinas se vestem como Krampus e desfilam acompanhando São Nicolau, durante as primeiras duas semanas de dezembro.
            No Brasil, há resquícios dessa tradição em Santa Catarina, no Vale do Itajaí. Nas cidades de Brusque e Guabiruba, por exemplo, é chamado 'Pensinique'. Aparece vestido em roupa velha, tem cabelo de palha, e carrega um saco nas costas como o Papai Noel. Nesta trouxa possui instrumentos para assustar as crianças más, e as muito más ameaça-se serem levadas embora em seu saco.

Entrelinhas

            O nome Santa Claus, como Noel é conhecido em inglês, é uma adaptação de Sinter Klaas, forma como São Nicolau era chamado pelos holandeses, que levaram suas tradições natalinas para colônias na América no século XVII. Já por aqui, a origem da expressão "Papai Noel" tem raízes no idioma francês, no qual Noël significa "Natal". Ou seja, no Brasil, o bom velhinho ganhou um carinhoso nome que significa literalmente "Papai Natal".

Fontes:

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