O Que Não Mudou Depois da Rio+20

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

       Há mais de 6 meses aconteceu o maior evento já realizado pelas Nações Unidas, o Rio+20, que contou com a participação de chefes de estados de cento e noventa nações que propuseram mudanças, sobretudo, no modo como estão sendo usados os recursos naturais do planeta.
       Como estudante de engenharia ambiental, a realização do evento e suas consequencias deveriam ser de suma importância para mim. Cheguei inclusive a visitar a Cúpula das Nações, instalada no Aterro do Flamengo. Infelizmente, em função da já premeditada falta de resultados conclusivos, fiquei extramente chateado e decepcionado com o resultado efetivo da conferência e não me interessei como deveria pelo assunto na época.
       Agora, em pleno início de 2013, finalmente peguei pra ler um artigo sobre o tema, este em questão publicado pela Scientific American Brasil, Edição Especial Ambiente. Pude, pela primeira vez, compreender tudo que esteve por trás do megaevento, o porque de sua aparente inefetividade, e pra que ele realmente serviu.
       Os trechos a seguir foram retiradas do dito artigo, escrito pelo sociólogo Sérgio Abranches. Nada é mais esclarecedor que ler o texto na íntegra, mas para quem não tem acesso à revista, essas foram as partes mais explicativas e importantes na compreensão da atual situação da política sustentável global.

"Na primeira semana do encontro, 500 cientistas mergulharam em suas dúvidas, debates, controvérias num importante encontro (...) Entre essas dúvidas não está a de que o mundo passa por mudanças climáticas induzidas pela ação humana. Não há mais divisão entre cientistas que negam e afirmam a realidade da mudança climática.
Porque essa concordância entre os cientistas em pontos-chave não se transforma em documentos robustos? Porque a experiência com as negociações das convenções da biodiversidade e do clima já demonstrou que essas grandes assembleias, em que as decisões exigem uniminidade, não levam a decisões ambiciosas.  (...) Nelson Rodrigues, dizia que "toda unaminidade é burra". Mais que isso, ela exige que todos se contentem com o mínimo, quando o mais razoável é buscar o máximo. O mínimo é o mais insustentável dos propósitos, diante da dimensão do que ameaça a humanidade."


""A Rio+20 terminou hoje com um conjunto de resultados que, se realmente levados adiante nos próximos meses e anos, oferece a oportunidade para catalizar caminhos rumo a um século 21 mais sustentável."  Assim Achim Steiner, diretor executivo do programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) definiu a conclusão da Rio+20. Anotou que é uma promessa, não um resultado palpável. "Vamos em passos incrementais." O problema desse passo a passo das decisões globais é que a crise ambiental e climática avança em alta velocidade e aumentam os riscos efetivos de ruptura ecológicas, principalmente às associadas à mudança climática.
No mundo oficial , decidiu-se por um processo de negociações, sem garantias de que terá bons resultados. Ele tem prazo definido para chegar aos resultados inicados, mas o mandato aos negociadores é amplo e difuso demais. Não garante  que o produto final corresponderá às aspirações enunciadas nos discursos oficiais."

"Na Rio+20 não se conseguiu concenso sobre o mínimo necessário para começarmos essa caminhada rumo à sustentabilidade. Chegou-se ao compromisso possível. Mas não é assim que funciona com o clima e o ambiente. A natureza do desafio mudou. No século 20, o compromisso era possível, porque as questões eram políticas e de segurança militar. No século 21, as forças que nos ameaçam não admitem compromissos, nem atraso. Não se pode pedir que as mudanças climáticas recuem e deem novos prazos à humanidade. A Natureza é tema, mas não se senta à mesa de negociações."

"(...) A Rio+20 ocorreu em um momento de muita turbulência na economia globalizada, incerteza sobre as consequências da crise financeira, desdobramentos políticos em muitas partes do mundo e capacidade da comunidade internacional para lidar com esses conflitos. (...) não se pode permitir  que essas dificuldades se sobreponham ao enfrentamento dos perigos postos pelas ações humanas ambientalmente destrutivas.(...) embora algum progresso tenha sido feito no trato das questões ambientais globais, redução da pobreza e segurança alimentar, hídrica e humana, a escala dessas ações não foi comensurável com a escala dos problemas."

"Quando se examinam em seu conjunto as peças que compuseram esse megaevento, o que fica claro é que tiveram muito mais sucesso as iniciativas que implicavam ações voluntárias que aquelas que envolviam comprometimento político mais forte e que poderiam evoluir para compromissos de natureza mais compulsória."

"Formar concenso em uma assembléia desigual de nações em torno de compromissos que exigem mudanças no padrão econômico e energético e regulamentação do desempenho dos países é muito difícil. O máximo que se obtém é um raso mínimo denominador comum. Como a regra é a unaminidade, qualquer país tem poder de veto. Como cada país tem pelo menos uma área de interesses que considera inegociáveis, a probabilidade de que vetos cruzados eliminem a relevância de todas as decisões é enorme.
A diversidade é grande e os interesses começam a se diferenciar de forma muito mais acentuada com as mudanças globais. As áreas de conflito se ampliam mais rapidamente que as áreas de cooperação."


"Dada a sua magnitude essas reuniões chamam cada vez mais a atenção da mídia global, o que aumenta a visibilidade das questões de que tratam e facilita a mobilização da opinião pública. Essa mobilização é um ingrediente essencial para mudanças no âmbito dos países (...)"

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