A Coleção Oficial de Graphic Novels da Marvel [Parte 02]

terça-feira, 15 de abril de 2014

No começo do ano fiz um texto falando sobre a Coleção Oficial de Graphic Novels da Marvel, lançada aqui no Brasil pela Panini em parceria com a editora Salvat. Como os lançamentos continuaram, resolvi escrever a parte dois, falando dos títulos que ainda não tinha comentado, e dando dicas pra quem não pretende, ou não pode, comprar todas as edições, já que cada encadernado é lançado quinzenalmente pelo preço de R$29,90, o que não é caro devido à qualidade do material, mas que pode acabar pesando no orçamento do final do mês.

“Ciclope, Rainha Branca, Fera, Wolverine, Kitty Pryde. Mutantes. X-Men. Sua existência e suas identidades não são mais um segredo. Agora, eles precisam provar ao mundo que são heróis. Mas qual deve ser a posição dos maiores defensores dos Homo superior diante do anúncio de uma "cura" para suas mutações?”

            O primeiro dos títulos que vou comentar aqui é a primeira parte do arco Surpreendentes X-Men Superdotados, escrito por Joss Wheadon, que é, pra quem não sabe, o diretor de Os Vingadores e o criador da série Buffy, A Caça-Vampiros.
            Como já admiti em publicações anteriores, passei a me interessar por quadrinhos quando já era mais velho, portanto, mesmo eu sendo agora um devorador de HQs, perdi muita coisa boa que teve por aí. E, apesar de saber bastante do universo mutante através de pesquisas pela internet, e escutando muitos podcasts, Superdotados foi o primeiro arco fechado que li dos mutantes. E eu não podia ter escolhido uma fase melhor.
            Pra começar, não é necessário ter conhecimento de edições passadas dos X-Men pra entender a trama. Tudo que você precisa saber está explicado logo no "A historia até aqui", um “resumão” logo nas primeiras páginas.
            Segundo, o roteiro é ótimo. A história me surpreendeu a todo momento, sem nunca se tornar previsível. E Joss Wheadon joga um tema interessante e polêmico na história, que rende boas reflexões durante a leitura: uma cura artificial para as mutações. O roteiro é brilhante ao discutir essa ideia, porque por mais absurda que ela possa ser, ele também mostra os dois lados da moeda, afinal nem toda mutação te transforma num super-herói bonitão que lança raios pelos olhos. Existem mutantes deformados e sem poder nenhum. Vale ressaltar que a publicação desse encadernado, apesar da publicação original ser bem mais antiga, foi atual ao projeto de lei da “Cura Gay”, e é impossível ler algumas passagens e não fazer um paralelo.
            Além de tudo que já falei, a dinâmica dos X-Men está muito boa. As relações entre os personagens de rivalidade, respeito, e toda a implicância e até mesmo o carinho estão na medida, e nos aproximam da superequipe. O humor também é muito bem pontuado na história. E tudo isso aliado a um traço muito bonito e cheio de detalhes do desenhista John Cassaday. A única coisa de que não gostei foi do traço no rosto de algumas protagonistas femininas como Emma Frost e Kitty Pride, assumidamente beldades dos quadrinhos, em alguns quadros.
            Resumindo, os Surpreendentes X-Men Superdotados é um item indispensável da coleção, tendo tudo que uma ótima HQ deve ter: boas cenas de ação, mas na medida certa, um bom roteiro que fica na sua cabeça mesmo após a leitura, nada de muitos momentos previsíveis ou personagens clichês, humor na medida certa, uma boa dose de romance, e personagens carismáticos. Se você está há muito tempo sem ler nada dos mutantes, ou mesmo nunca teve contato com os personagens, é uma boa pedida.

“Numa cidade onde um homem em chamas caminha pelas ruas, justiceiros em fantasias coloridas sobem pelas paredes e alienígenas de pele prateada vindos de outro mundo trazem o presságio de uma destruição mundial, descubra como é ser um homem comum testemunhando o nascimento do universo Marvel. Retorne aos primórdios da Era dos Heróis e mergulhe em um mundo repleto de MARAVILHAS.”

            Minha segunda recomendação é Marvels, uma minisséria diferente de tudo que eu já li. Como dito na sinopse, em Marvels não acompanhamos nenhum super-herói especificamente, mas sim uma pessoa comum, um jornalista, e através de suas lentes enxergamos como é viver num mundo repleto de superseres.
            Como seria acompanhar alguns dos principais acontecimentos do universo Marvel fora da perspectiva tradicional de heróis e vilões? Da perspectiva de alguém que não sabe exatamente o que está acontecendo e que, temendo pelo próprio destino, muitas vezes toma o verdadeiro herói como vilão?
            Marvels foi escrita pensando-se em discutir esses assuntos, e pra mostrar que nem tudo são flores num universo recheado de super-heróis. Afinal, como dito por Carlos E. Corrales no site delfos, “se temos problemas com as raças que já existem hoje e cujas diferenças são nada mais que físicas, como poderíamos aceitar uma outra raça? Podemos dizer, com veemência, que não teríamos nada contra uma nova raça cuja diferença não fosse apenas na aparência, mas que ainda tivesse as habilidades e poderes necessários para nos roubar, sequestrar, ou até matar?”.
Lendo a história deste jornalista, veremos clássicos do universo Marvel recontados através de sua ótica, desde o surgimento dos super-heróis na época da Segunda Guerra Mundial, até culminar naquela que é, provavelmente, a estória mais conhecida das HQs Marvel, aquela que conta a morte de Gwen Stacy, o primeiro amor de Peter Parker. E o mais legal é que acompanhamos também o amadurecimento desse protagonista pra lá de inusitado, já que a minissérie, que é dividida em quatro partes, acompanha quatro momentos distintos da sua vida. É muito interessante ver como mudamos de comportamento à medida que envelhecemos e vamos ganhando “marcas de guerra”.
            Mesmo quem nunca ouviu falar dos grandes eventos Marvel citados, como o surgimento de Galactus nas histórias do Quarteto Fantástico, ou da morte de Gwen nas mensais do Homem-Aranha , vai gostar da história. Porém, é claro que quem já leu essas histórias vai ter um deleite a mais.
            A arte de Alex Ross, muito conhecido por seu trabalho em O Reino da Amanhã, da editora rival, é algo à parte. São imagens pintadas à mão, em óleo, usando modelos reais. Diferente do trabalho de qualquer outro quadrinista, não são apenas desenhos, são verdadeiras pinturas, e valorizam ainda mais esse encadernado.
            Enfim, Marvels é outra pedida obrigatória dessa coleção. É uma obra de extrema sensibilidade, tão tocante que merece ser lida tanto por quem conhece o universo Marvel tanto por aqueles que nunca se interessaram por HQs.

            E, pra fechar essa Parte 2, Guerra Secreta. Na história, o chefão da S.H.I.E.L.D, Nick Fury, começa a desconfiar de muitos dos supervilões que atuam nos Estados Unidos, já que não passam de pés de chinelo que jamais teriam verba para financiar seus armamentos, trajes e equipamentos mirabolantes. Sendo assim, alguma mente brilhante por trás desses criminosos deve financiá-los. E isso certamente tem algum propósito que não somente o de fazer caridade entre a bandidagem high-tech. Suas investigações o levam à primeira ministra da Latvéria (o famoso país do Dr, Destino), Lúcia Von Bardas. O governo dos EUA ignora a questão e parte para soluções diplomáticas, mas Fury tem certeza que existe alguma coisa muito maior por trás envolvendo atos terroristas e convoca um grupo de super-heróis (a saber: Homem-Aranha, Capitão América, Demolidor, Wolverine, Luke Cage e Viúva Negra) para viajar até o lugar e “destituir” a moça do cargo, sendo essa a tal Guerra Secreta do título.
            Essa minissérie tinha tudo pra ser sensacional, além de dar aquela cutucada na política norte-americana e nos acontecimentos do 11 de setembro, principalmente na tese conspiratória de que o governo sabia dos ataques e não fez nada para impedir. É basicamente isso que o presidente faz na hq: por causa de acordos econômicos, não leva em consideração os alertas da inteligência do país e os resultados são catastróficos. O roteiro é interessante, mas não é desenvolvido de forma empolgante.
            Dividida em três parte, pra mim a melhor delas é a primeira, porque a minissérie começa realmente bem. Temos uma boa teoria da conspiração, onde podemos inclusive fazer paralelos com a politicagem moderna, e questionamentos sobre a conduta de Nick Fury, que leva ao pé da letra o ditado “os fins justificam os meios”. Fury, como um bom e velho soldado patriota, prefere ir de encontro à hierarquia e politicagem e fazer o que considera o correto. Só que sua decisão tem consequências graves, principalmente se levarmos em consideração as questões éticas envolvidas. Mas afinal, será que ele está errado mesmo? Será que esperar pra agir e evitar ao máximo os danos colaterais é o melhor a se fazer quando se tem tanto em jogo? É um ótimo tema de discussão. E justamente por ter me empolgado tanto com a primeira parte que me fui me decepcionando mais ao longo do resto da leitura. Parece que Brian Michael, o roteirista, foi deixando de lado o roteiro pra focar em cenas de ação, algo que não me atrai muito. Se é pra ver cenas de ação, vou ao cinema. Pra mim, quadrinhos são feitos de equilíbrio.
O final, então, nem se fala. É totalmente corrido e clichê. Uma pena, principalmente pra uma história com potencial.
Enfim, das três edições de hoje, essa é a mais fraquinha, mas nem por isso é um desperdício total se você está com dinheiro sobrando, ou quer ter a coleção completa. Em nenhum momento eu tive vontade de largar a leitura, e a arte de Gabrielle Dell´Otto é bonita. Além disso, a história explica porque Fury não é mais diretor da S.H.I.E.L.D nas histórias atuais da Marvel. Ah, e pra quem está mais familiarizado com o universo cinematográfico Marvel, não se assuste ao ver um Nick Fury branco, afinal, a versão de Samuel L. Jackson para os cinemas é inspirada na versão Ultimate do personagem, num tipo de universo alternativo da editora.
Pensando bem, talvez essa história merece até três estrelas...

2 comentários:

Paulo Rennes Marçal Ribeiro disse...

Gostei do texto... Vou tentar comprar a Coleção graças ao Padu Aragon...

Unknown disse...

O seu blog e muito bom cara !

Postar um comentário

Blog contents © Portfólio da Vida 2010. Blogger Theme by Nymphont.