No começo
do ano fiz um texto falando sobre a Coleção
Oficial de Graphic Novels da Marvel, lançada aqui no Brasil pela Panini em
parceria com a editora Salvat. Como os lançamentos continuaram, resolvi escrever
a parte dois, falando dos títulos que ainda não tinha comentado, e dando dicas
pra quem não pretende, ou não pode, comprar todas as edições, já que cada
encadernado é lançado quinzenalmente pelo preço de R$29,90, o que não é caro
devido à qualidade do material, mas que pode acabar pesando no orçamento do
final do mês.
“Ciclope, Rainha Branca, Fera,
Wolverine, Kitty Pryde. Mutantes. X-Men. Sua existência e suas identidades não
são mais um segredo. Agora, eles precisam provar ao mundo que são heróis. Mas
qual deve ser a posição dos maiores defensores dos Homo superior diante do
anúncio de uma "cura" para suas mutações?”
O primeiro dos títulos que vou
comentar aqui é a primeira parte do arco Surpreendentes
X-Men Superdotados, escrito por Joss Wheadon, que é, pra quem não sabe, o
diretor de Os Vingadores e o criador
da série Buffy, A Caça-Vampiros.
Como já admiti em publicações
anteriores, passei a me interessar por quadrinhos quando já era mais velho,
portanto, mesmo eu sendo agora um devorador de HQs, perdi muita coisa boa que
teve por aí. E, apesar de saber bastante do universo mutante através de
pesquisas pela internet, e escutando muitos podcasts, Superdotados foi o
primeiro arco fechado que li dos mutantes. E eu não podia ter escolhido uma
fase melhor.
Pra começar, não é necessário ter
conhecimento de edições passadas dos X-Men pra entender a trama. Tudo que você
precisa saber está explicado logo no "A historia até aqui", um “resumão”
logo nas primeiras páginas.
Segundo, o roteiro é ótimo. A
história me surpreendeu a todo momento, sem nunca se tornar previsível. E Joss
Wheadon joga um tema interessante e polêmico na história, que rende boas
reflexões durante a leitura: uma cura artificial para as mutações. O roteiro é
brilhante ao discutir essa ideia, porque por mais absurda que ela possa ser,
ele também mostra os dois lados da moeda, afinal nem toda mutação te transforma
num super-herói bonitão que lança raios pelos olhos. Existem mutantes
deformados e sem poder nenhum. Vale ressaltar que a publicação desse
encadernado, apesar da publicação original ser bem mais antiga, foi atual ao
projeto de lei da “Cura Gay”, e é impossível ler algumas passagens e não fazer
um paralelo.
Além de tudo que já falei, a dinâmica
dos X-Men está muito boa. As relações entre os personagens de rivalidade, respeito,
e toda a implicância e até mesmo o carinho estão na medida, e nos aproximam da
superequipe. O humor também é muito bem pontuado na história. E tudo isso
aliado a um traço muito bonito e cheio de detalhes do desenhista John
Cassaday. A única coisa de que não gostei foi do traço no rosto de algumas
protagonistas femininas como Emma Frost e Kitty Pride, assumidamente beldades
dos quadrinhos, em alguns quadros.
Resumindo, os Surpreendentes X-Men
Superdotados é um item indispensável da coleção, tendo tudo que uma ótima HQ
deve ter: boas cenas de ação, mas na medida certa, um bom roteiro que fica na
sua cabeça mesmo após a leitura, nada de muitos momentos previsíveis ou
personagens clichês, humor na medida certa, uma boa dose de romance, e
personagens carismáticos. Se você está há muito tempo sem ler nada dos mutantes,
ou mesmo nunca teve contato com os personagens, é uma boa pedida.
“Numa cidade onde um homem em chamas
caminha pelas ruas, justiceiros em fantasias coloridas sobem pelas paredes e
alienígenas de pele prateada vindos de outro mundo trazem o presságio de uma
destruição mundial, descubra como é ser um homem comum testemunhando o
nascimento do universo Marvel. Retorne aos primórdios da Era dos Heróis e
mergulhe em um mundo repleto de MARAVILHAS.”
Minha segunda recomendação é Marvels, uma minisséria diferente de
tudo que eu já li. Como dito na sinopse, em Marvels não acompanhamos nenhum
super-herói especificamente, mas sim uma pessoa comum, um jornalista, e através
de suas lentes enxergamos como é viver num mundo repleto de superseres.
Como seria acompanhar alguns dos
principais acontecimentos do universo Marvel fora da perspectiva tradicional de
heróis e vilões? Da perspectiva de alguém que não sabe exatamente o que está
acontecendo e que, temendo pelo próprio destino, muitas vezes toma o verdadeiro
herói como vilão?
Marvels
foi escrita pensando-se em discutir esses assuntos, e pra mostrar que nem tudo
são flores num universo recheado de super-heróis. Afinal, como dito por Carlos
E. Corrales no site delfos, “se temos problemas com as raças que já existem
hoje e cujas diferenças são nada mais que físicas, como poderíamos aceitar uma
outra raça? Podemos dizer, com veemência, que não teríamos nada contra uma nova
raça cuja diferença não fosse apenas na aparência, mas que ainda tivesse as
habilidades e poderes necessários para nos roubar, sequestrar, ou até matar?”.
Lendo
a história deste jornalista, veremos clássicos do universo Marvel recontados
através de sua ótica, desde o surgimento dos super-heróis na época da Segunda
Guerra Mundial, até culminar naquela que é, provavelmente, a estória mais
conhecida das HQs Marvel, aquela que conta a morte de Gwen Stacy, o primeiro
amor de Peter Parker. E o mais legal é que acompanhamos também o amadurecimento
desse protagonista pra lá de inusitado, já que a minissérie, que é dividida em
quatro partes, acompanha quatro momentos distintos da sua vida. É muito interessante
ver como mudamos de comportamento à medida que envelhecemos e vamos ganhando “marcas
de guerra”.
Mesmo quem nunca ouviu falar dos
grandes eventos Marvel citados, como o surgimento de Galactus nas histórias do
Quarteto Fantástico, ou da morte de Gwen nas mensais do Homem-Aranha , vai
gostar da história. Porém, é claro que quem já leu essas histórias vai ter um
deleite a mais.
A arte de Alex Ross, muito conhecido
por seu trabalho em O Reino da Amanhã,
da editora rival, é algo à parte. São imagens pintadas à mão, em óleo, usando
modelos reais. Diferente do trabalho de qualquer outro quadrinista, não são
apenas desenhos, são verdadeiras pinturas, e valorizam ainda mais esse
encadernado.
Enfim, Marvels é outra pedida
obrigatória dessa coleção. É uma obra de extrema sensibilidade, tão tocante que
merece ser lida tanto por quem conhece o universo Marvel tanto por aqueles que
nunca se interessaram por HQs.
E, pra fechar essa Parte 2, Guerra Secreta. Na história, o chefão
da S.H.I.E.L.D, Nick Fury, começa a desconfiar de muitos dos supervilões que atuam nos Estados Unidos, já que não passam de pés de chinelo que jamais teriam verba para financiar seus armamentos, trajes e equipamentos mirabolantes. Sendo assim, alguma mente brilhante por trás desses criminosos deve financiá-los. E isso certamente tem algum propósito que não somente o de fazer caridade entre a bandidagem high-tech. Suas investigações o levam à primeira ministra da Latvéria (o
famoso país do Dr, Destino), Lúcia Von Bardas. O governo dos EUA ignora a
questão e parte para soluções diplomáticas, mas Fury tem certeza que existe
alguma coisa muito maior por trás envolvendo atos terroristas e convoca um
grupo de super-heróis (a saber: Homem-Aranha, Capitão América, Demolidor,
Wolverine, Luke Cage e Viúva Negra) para viajar até o lugar e “destituir” a
moça do cargo, sendo essa a tal Guerra Secreta do título.
Essa minissérie tinha tudo pra ser
sensacional, além de dar aquela cutucada na política norte-americana e nos acontecimentos do 11 de setembro, principalmente na tese conspiratória de que o governo sabia dos ataques e não fez nada para impedir. É basicamente isso que o presidente faz na hq: por causa de acordos econômicos, não leva em consideração os alertas da inteligência do país e os resultados são catastróficos. O roteiro é interessante, mas não é desenvolvido de forma empolgante.
Dividida em três parte, pra mim a melhor delas é a primeira, porque a
minissérie começa realmente bem. Temos uma boa teoria da conspiração, onde
podemos inclusive fazer paralelos com a politicagem moderna, e questionamentos
sobre a conduta de Nick Fury, que leva ao pé da letra o ditado “os fins
justificam os meios”. Fury, como um bom e velho soldado patriota, prefere ir de encontro à hierarquia e politicagem e fazer o que considera o correto. Só que sua decisão tem consequências graves, principalmente se levarmos em consideração as questões éticas envolvidas. Mas afinal, será que ele está errado mesmo? Será que
esperar pra agir e evitar ao máximo os danos colaterais é o melhor a se fazer
quando se tem tanto em jogo? É um ótimo tema de discussão. E justamente por ter
me empolgado tanto com a primeira parte que me fui me decepcionando mais ao
longo do resto da leitura. Parece que Brian Michael, o roteirista, foi deixando
de lado o roteiro pra focar em cenas de ação, algo que não me atrai muito. Se é
pra ver cenas de ação, vou ao cinema. Pra mim, quadrinhos são feitos de
equilíbrio.
O
final, então, nem se fala. É totalmente corrido e clichê. Uma pena,
principalmente pra uma história com potencial.
Enfim,
das três edições de hoje, essa é a mais fraquinha, mas nem por isso é um
desperdício total se você está com dinheiro sobrando, ou quer ter a coleção
completa. Em nenhum momento eu tive vontade de largar a leitura, e a arte de Gabrielle
Dell´Otto é bonita. Além disso, a história explica porque Fury não é mais
diretor da S.H.I.E.L.D nas histórias atuais da Marvel. Ah, e pra quem está mais
familiarizado com o universo cinematográfico Marvel, não se assuste ao ver um
Nick Fury branco, afinal, a versão de Samuel L. Jackson para os cinemas é
inspirada na versão Ultimate do personagem, num tipo de universo alternativo da
editora.
Pensando bem, talvez essa história merece até três estrelas...
2 comentários:
Gostei do texto... Vou tentar comprar a Coleção graças ao Padu Aragon...
O seu blog e muito bom cara !
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