Quando
terminei de assistir O Espetacular
Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro fui na internet ler o que andava sendo
dito sobre ele; tenho o costume de fazer isso sempre após assistir a um filme
pra dar uma assentada nas minhas primeiras impressões. Mas uma coisa que eu acabava
sempre encontrando, não importa o site que eu acessava, eram comparações com a
trilogia "clássica" do diretor Sam
Raimi, que teve início com o filme de 2002. Infelizmente, não acompanhei os
filmes na época de seu lançamento. Eu era pequeno, dependia de companhia pra ir
ao cinema, meu pai morava em outra cidade, e eu não tinha o acesso fácil à internet que tenho hoje. Resumindo: acabei vendo os filmes anos depois e em
casa, fora da "hype" dos lançamentos. Mas hoje, tantos anos depois, resolvi assistir
novamente todos os filmes, inclusive o polêmico Homem-Aranha 3, além do
"reboot" de 2012, e finalmente deixar minhas impressões, mesmo que um pouco fora
de época.
O primeiro que eu reassisti foi,
claro, o já clássico Homem-Aranha,
de 2002. Não há sentido em eu falar aqui a sinopse ou dar dados técnicos
ou curiosidades, porque esse já é um tema bem batido na internet. Sendo então bem
direto: eu gostei do filme. Não lembrava de quase nada, e foi bom assisti-lo
novamente com outros olhos. A história é redondinha, não tem furos de roteiro, porém
é bem aquele "basicão" de filme de origem. Acontece que na época isso
era uma novidade, e podemos até dizer que junto com o primeiro X-Men, Homem-Aranha foi o filme responsável pelo "boom" de
filmes de heróis. Fica difícil falar das atuações de Tobey Maguire como Peter Parker e Kirsten Dunst como Mary Jane depois de assistir aos novos filmes
com Andrew Garfield e Emma Stone, porque na época não
tínhamos com o que compará-las. Mas apesar deu não achar esse Homem-Aranha
carismático, Tobey Maguire estava
bem como Peter Parker. Só acho que ele era muito o estereótipo do
"nerd" da década de 60, e isso não cai muito bem nos dias de hoje.
Pode até ser que o personagem fosse assim na origem, mas o personagem evolui ao
longo do tempo nos quadrinhos, ou seja, o fato dele ser o Aranha vai dando
confiança pro personagem, e isso acaba se refletindo na própria vida pessoal do
herói. O meu grande problema com os primeiros filmes é que o
personagem começa e termina a trilogia como um "looser" bobão. Mas,
por esse ser um filme de origem, isso nem me incomodou tanto.
Pra mim a melhor coisa desse filme é a atuação de Willem Dafoe como Norman Osborn, que me convenceu como vilão. Vi muita gente reclamando do visual do Duende Verde no filme, mas não me incomodou, pelo contrário, achei bem funcional e uma boa adaptação. Nos quadrinhos ele é só um cara com uma fantasia de Duende, e acho que nos cinemas, principalmente naquela época em que os efeitos visuais não eram iguais aos de hoje, isso ia ficar bem estranho. Outro que merece destaque é J.K. Simmons como J.J. Jameson, pois parece que o ator nasceu pra esse papel; ele é a encarnação perfeita do personagem dos quadrinhos, e todas as suas aparições são hilárias. Por falar nisso, outra coisa que falta nesse filme é o Homem-Aranha piadista, mas, novamente, por ser um filme de origem e por mostrar um Homem-Aranha em início de carreira, dá pra deixar passar. Não vou me estender falando de James Franco como Harry Osborn nesse filme, porque ele merece um parágrafo a parte quando eu for falar do 3º filme.
Os efeitos especiais estão bons até
hoje, apesar de já estarem um pouco datados, principalmente a movimentação do
Homem-Aranha, que fica bem "fake" quando comparamos com toda a física
dos novos filmes do aracnídeo. Mas isso nem pode ser apontado como uma falha porque
era o melhor que se tinha na época.
Já Homem-Aranha
2, de 2004, é, na minha opinião, o melhor filme da trilogia de Sam Raimi. Esse filme tem tudo o que
está faltando nesses novos filmes, mas continua falhando no que os novos filmes
têm trazido de melhor. Mas deixa eu me explicar.
O que esse filme têm de melhor é o
seu roteiro. A história do vilão, Dr. Octopus, interpretado pelo ótimo Alfred Molina, é muito bem construída. Além
disso, o fato do filme focar em como a vida de Homem-Aranha interferi
diretamente na vida pessoal de Peter, no seu aperto financeiro e no da sua tia,
e, além disso, em mostrar como a morte de seu tio tem importância na sua
formação como herói, coisa que passou muito rápido no primeiro filme, são os
pontos altos do filme. Tudo isso é muito presente nas histórias do personagem,
e esse drama cotidiano não aparece muito nos novos filmes, em que parece que a
vida pessoal de Peter vai bem, o que sabemos que não é verdade, já que o
personagem é um dos mais azarados dos quadrinhos. Além disso, temos uma
continuação no desenvolvimento do arco de Harry Osborn, iniciado no primeiro
filme, mostrando como vilões podem ser bem desenvolvidos, principalmente se
trabalhados em mais de um filme. Ah, e J.K.
Simmons continua sensacional.
Porém, esse filme continua falhando
onde falha o primeiro filme: não sinto carisma nenhuma pelo casal principal, e
Peter continua um bobão. A essa altura da vida, sendo o Homem- Aranha faz
tempo, e já na faculdade, era pro personagem já estar muito mais seguro de si.
Além disso, ainda não temos o Homem-Aranha piadista, e vou continuar batendo
nesta tecla, porque essa é uma das características mais marcantes do
personagem, não importa o quanto ele apanhe, ele está sendo encarando tudo numa
boa.
E, pra fechar a trilogia clássica,
vamos ao polêmico Homem-Aranha 3.
Sinceramente, eu gostaria de saber porque o público especializado têm tanta
implicância com certos filmes. Sempre que eu vou ler algo a respeito do filme,
90% dos sites está avacalhando com o longa. O filme tem falhas? Têm. Mas quase
todo filme tem problemas, e nem por isso vejo essa enxurrada de críticas.
Parece implicância mesmo, porque poucas foram as pessoas que conseguiram
explicar os motivos pra achar o filme tão ruim assim. E pra mim esse é ponto:
gosto é gosto, e você pode ou não gostar do filme, mas quando você vai falar
que um filme é terrível, é bom saber
listar os problemas do filme, porque o que eu vi sendo apontado como falhas
nesse filme não são exclusivos deste. E essa é a questão: será mesmo que Homem-Aranha 3 é tão ruim, ou será que
virou "modinha" odiar o filme?
Eu vou ser bem direto,então: o filme
não é ruim. Não é também um filme que me empolgue, e ele falha miseravelmente
em alguns pontos, mas está no nível de muito filme blockbuster que temos por aí.
O filme erra a mão principalmente em
dois pontos. O primeiro deles foi na caracterização do vilão Venom. Não achei
que Topher Grace comprometeu como
Eddie Brock. Achei o personagem,
enquanto Eddie, bem caracterizado. O problema foi a sua rápida transformação em
Venom. O simbionte literalmente cai de paraquedas no filme, e apesar de
coincidências em filmes não me incomodarem tanto, o processo de transformação
de jornalista à vilão foi muito repentino, além de desenvolvido de forma muito
rápida. Não dá tempo de você sentir absolutamente nada pelo vilão, e quase não
vi o no seu clássico uniforme negro em
tela; foram poucos os momentos de "close" no Venom em si. Seria muito
mais interessante se Eddie Brock fosse apresentado nesse filme, e sua história
começasse a ser desenvolvida para, quem sabe, num próximo filme ele aparecer como Venom.
O outro ponto negativo foi a
caracterização "emo" do Homem-Aranha. Jogar o cabelinho pra frente e
sair fazendo show na rua não transformam ninguém num badboy, só fazem o público ficar com vergonha alheia (apesar deu
ter que admitir que me divirto vendo essas cenas dele dançando na rua até hoje).
Tinham milhares de outras formas de mostrar a influência do simbionte no Peter,
algumas até aproveitadas no filme. Só não precisava dessas "ceninhas". Pode até
ser que eu não tenha pego a real intenção do diretor, mas eu não curti isso
não.
Já o vilão Homem-Areia, interpretado
por Thomas Haden Church, dividiu
minha opinião. Por um lado, adorei a caracterização do personagem como um pai
desesperado em pagar o tratamento da filha doente, e em como ele foi uma vítima
das circunstâncias. É um vilão humanizado, nada unidimensional. Você consegue
entender a dimensão do sofrimento que ele trouxe pra família do homem que
acabou matando ao tentar roubar pra salvar a filha, mas também entende o seu
desespero, e sente até pena do rumo que a sua vida tomou, apesar de sabermos que nada pode justificar o que ele fez. O grande problema, também, é justamente o fato dele
ter matado justamente o tio Ben, já que isso abre um precedente desnecessário. Entendam: isso quase que isenta a culpa do Peter pela morte do tio, algo que faz parte da essência do
personagem, afinal, ele só vira um herói por
causa da morte de seu tio. Poderia ter sido feito de outra forma. E não é coisa
de fã, algumas coisas não devem mesmo ser mexidas, especialmente os eventos
fundadores dos protagonistas.
Ainda falando do Homem-Areia, vale
citar uma das melhores cenas desse filme: ele aprendendo a controlar seus
novos poderes, e a se "reorganizar" novamente, depois de virar areia.
É uma cena linda e sensível.
Uma outra coisa que não curti muito,
mas isso já como fã exclusivamente, foi a péssima caracterização de Gwen Stacy,
interpretada por Bryce Dallas Howard.
Pra uma personagem da importância da Gwen na vida do herói, ficou feio a forma
como ela foi aproveitada. Se era pra existir no filme uma personagem que serve exclusivamente
pra causar ciúmes na Mary Jane, era mais fácil que colocassem uma mulher
qualquer, ao invés de usar alguém como a Gwen. Ela cumpre o papel que era pra
ter sido inclusive da Mary Jane, que não é originalmente o primeiro e grande
amor de Peter.
De resto, não consigo ver mais nada
pra criticar no filme. É um bom entretenimento, que corre em alguns pontos, mas
apresenta um desenvolvimento legal dos personagens que já haviam sido
trabalhados nos filmes anteriores, principalmente de Harry Osborn, que merece
um parágrafo à parte. O grande destaque desse 3º filme é o fechamento do arco do
personagem de James Franco. Harry
foi magistralmente construído ao longo da trilogia. Nesse filme temos o Duende
dos quadrinhos totalmente. Sua história vem sendo desenvolvida desde o primeiro
filme, e ele é o personagem que é melhor desenvolvido, e o mais carismático de
toda a trilogia. Vai de melhor amigo à vilão, pra só no final ter sua redenção,
salvando Peter e morrendo como seu melhor amigo, exatamente como acontece nos
quadrinhos. A cena de sua morte é bem triste, e fiquei bem sensibilizado com o
fim do personagem. Uma pena que seu visual é bem qualquer coisa. Ele teria dado
um excelente Duende Macabro.
Concluindo, dá pra ver que a
trilogia do Sam Raimi é um ótimo
material, que envelheceu muito bem, e merece um lugar de destaque nas nossas prateleiras. Porém, esta na hora de falar do filme que deu início à nova leva
de filmes do aracnídeo.
O
Espetacular Homem-Aranha foi lançado em 2012, dirigido por Marc Webb, mesmo diretor de 500 Dias Com Ela.
O mais legal desse recomeço foi que
o filme resgatou elementos primordiais que fazem do Homem-Aranha um herói diferente,
como suas ‘tiradas‘ inteligentes e sarcásticas. Problemas financeiros e paixão
platônica foram deixados de lado neste "reboot", mas estes elementos
já haviam sido bem retratados na trilogia anterior, e o foque aqui pareceu ser
outro.
Eu particularmente preferi esse
filme ao Homem-Aranha de 2002. Gosto
mais da pegada desse filme e desse Peter Parker. O Peter de Andrew Garfield não é aquele estereótipo
de nerd, impraticável pros dias de hoje, mas mantém a essência do personagem: a
timidez, a inteligência, e a total falta de traquejo social. Garfield está
sensacional, e até mesmo Stan "The
Man" Lee disse que ele é perfeito para o papel. Emma Stone também é a Gwen perfeita, apaixonante do começo ao fim.
E finalmente temos um casal carismático e cheio de química.
Finalmente também temos a questão da teia inorgânica sendo
trabalhada, e o Peter inteligente dos quadrinhos ganha vida nesse novo filme. Na
trilogia original não haviam muitos indícios da genialidade do personagem, e
aqui eles estão por toda parte. Uma pena que a questão da teia inorgânica é um
pouco jogada. Enquanto eles mostram muito bem a questão do lançador de teia,
criação de Peter, ficou faltando explicar de que raios o Peter tira esse
estoque ilimitado de teia, porque se por um lado é mostrado que elas são uma
invenção da Oscorp, ficou faltando explicar como que o Peter tem acesso a um
estoque tão grande, afinal, não deve ser barato né? Seria legal se fosse mais
como na linha Ultimate, onde ele completa uma fórmula incompleta deixada por
seus pais. E já que esse filme explora justamente essa trama dos pais do Homem-Aranha,
não custava nada ter pensado mais no roteiro né?
Gostei do vilão, enquanto Dr. Connors. Depois
que ele vira o Lagarto, passa a ficar previsível.
A subtrama dois pais de Homem-Aranha
acrescenta algo novo e interessante ao roteiro, só acho que não precisava tirar
tanto o foco da importância dos tios do Peter, principalmente do papel de pai
exercido pelo Tio Ben.
Muita gente não gostou muito do
uniforme que foi usado nesse filme, mas há de se admitir que ele é crível pra
uma primeira versão, até o lance do óculos escuro usado pra ser o visor.
Outra coisa que vi um pessoal reclamando por aí foi da trilha sonora do filme. Eu tive justamente a opinião contrária. Achei a trilha sonora do filme sensacional e, pelo menos pra mim, extramente emotiva. Fico emocionado sempre que escuto 'Young Peter', música que abre o longa.
Outra coisa que vi um pessoal reclamando por aí foi da trilha sonora do filme. Eu tive justamente a opinião contrária. Achei a trilha sonora do filme sensacional e, pelo menos pra mim, extramente emotiva. Fico emocionado sempre que escuto 'Young Peter', música que abre o longa.
Resumindo, O Espetacular Homem-Aranha é um ótimo filme. O roteiro em si nada
acrescenta ao gênero, e possui algumas das soluções simplistas que estamos
acostumados a ver no gênero. Porém, é no desenvolvimento do casal principal e
no carisma desse novo Peter Parker que ele merece um lugar de destaque na minha prateleira.
Entrelinhas
Nos quadrinhos, Peter escala paredes por eletrostática. Porém, na trilogia de Raimi é um pouco diferente. E aí vem a pergunta que não quer calar: se a
habilidade de escalar paredes do Homem-Aranha no primeiro filme está na estrutura
de suas mãos e pés, assim como numa aranha, como ele consegue escalar
paredes vestindo seu uniforme? Se alguém souber, comente!
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