Ver um
filme é sempre uma boa oportunidade de dividir um pouquinho do seu tempo com os
amigos, com a família, e também de parar um pouco pra pensar, porque não? E
sabe aqueles filmes que você pode assistir com qualquer um? Com a namorada, com
a mãe, com a avó, com os amigos. Foi pensando nisso que resolvi escrever essa
nova seção. Pra falar um pouco de alguns filmes que vi aqui em casa com minha
família, e que recomendo a você assistir com a família, com a namorada, ou até
que mesmo que você assista sozinha pra tirar umas horas de reflexão.
O primeiro deles é Conversando com a Mamãe, filme argentino dirigido por Santiago Carlos Oves, baseado numa peça de teatro de mesmo nome. O filme conta a história de Jaime (Eduardo Blanco), um homem bem sucedido de 50 anos, que todo dia fala com sua mãe (China Zorrilla), já aos 80 anos, por telefone. Mas apesar do contato constante, ele é impessoal, e Jaime, sua esposa (Silvina Bosco) e seus filhos quase nunca a visitam. Quando Jaime é despedido devido a um ajuste interno da empresa em que trabalhava, ele se vê em apuros financeiros. Morando em uma bela casa e cuidando também de sua sogra, Jaime não vê outra alternativa que não seja vender o apartamento em que sua mãe sempre morou e trazê-la para morar consigo. Ao visitá-la para contar a triste novidade, Jaime é surpreendido com sua resistência em deixar o local e também por ela agora ter um namorado, Gregório (Ulises Dumont).
Conversando
com a Mamãe é um filme belíssimo, e que me surpreendeu muito. Pra começar, o
elenco é fantástico. Outra das qualidades do filme é o seu caráter
contemplativo. Vindo de tantas produções hollywoodianas, é muito interessante
nos deparamos com um filme que perde minutos de sua metragem com cenas
puramente artísticas, como o personagem principal fumando no quintal de sua
casa, um passeio pelo centro da cidade, ou o preparo do almoço. Cenas que podem
não acrescentar nada à trama, mas mostram que o diretor não está preocupado em
correr com a história, mas sim em contar uma história. E a observação e
contemplação fazem parte dessa narrativa. E posso não ser um especialista em
cinema, mas essa é uma característica que tenho reparado quando assisto filmes
e séries européias. Interessante ver isso também no cinema argentino.
Mas o grande ponto alto do filme é a
sua sensibilidade. Ao terminar de assisti-lo é impossível você não parar pra
pensar na vida que você está levando, afinal, Jaime é como todo cidadão bem
sucedido comum. Ele vive de aparências: arrumou um bom emprego, tem um bela
mulher e filhos, mas não é feliz. Ele vive pra manter esse padrão de vida, e
até mesmo o seu casamento só se mantém pra manter as aparências. Ao longo da
vida, fez o que a sociedade do consumo dizia pra fazer, mas nunca fez o que
realmente queria fazer. As conversas que ele vai tendo com a mãe vão abrindo
os seus horizontes, e os nossos também. O divertido é que em nenhum momento ela
está querendo dar lições de moral pro filho. Sua mãe é uma velhinha meio
esclerosada, mas muito simpática e cheia de boas intenções. Ela é espontânea, e
isso dá um charme muito próprio pro filme. E são justamente em suas conversas
com a mãe que Jaime começa a relembrar tudo aquilo que perdeu, e começa a
ganhar coragem pra mudar. É muito legal acompanhar a evolução do personagem a
cada encontro com a mãe, pois a cada visita, ele volta pra casa diferente.
Esse é um filme que além de poético,
nos faz valorizar nossas mães, e a nos incentivar a não abandonar nossa família
e ir nos fechando cada vez mais dentro de nossas casas.
Enfim, pode não ser o primeiro filme
a abordar essas questões, mas o faz de uma forma única. Altamente recomendado,
principalmente pra se ver com a família.
Outro filme que eu assisti foi Diana, filme de 2013 dirigido por Oliver Hirschbiegel. O filme é
inteiramente baseado num suposto caso da princesa com um médico paquistanês,
que nega veementemente o suposto caso, e o filme pouco fala da vida da princesa
fora desse suposto caso, tirando a retratação de suas várias missões
humanitárias. Portanto, não vá assistir esperando uma obra biográfica. O filme
foca numa fase específica da vida da princesa, particularmente no momento em
que ela estava mais emocionalmente fragilizada. E nesse ponto acerta. A atuação
de Naomi Watts, que interpreta a
princesa, é impecável.
Mas, se não fosse pelo nome do filme
e pelo fato da protagonista ter sido uma das mulheres mais famosas do século
passado, o filme talvez fosse apenas outra história romântica, sem nada de novo
a acrescentar. Não que eu não tenha gostado do filme, mas esse não é bem o meu
gênero preferido. Porém, o filme aborda algumas questões interessantes, mesmo que
meio superficialmente, como a dificuldade que temos em ceder quando estamos em
um relacionamento, e como é difícil ir pra frente num relacionamento em que a
outra parte é muito diferente de nós. É legal esse tipo de abordagem em
contrapartida a lógica do "o amor supera tudo" da maioria dos
romances.
No
mais, foi uma boa distração. Não é um filme que eu iria atrás, mas também não
perdi meu tempo. Além disso, talvez por eu não conhecer nada da vida da
celebridade, meio que encarava tudo como novidade. Mas isso também foi um fator
bem prejudicial, pois não entendi algumas passagens do filme que claramente só
quem viveu a época, ou sabe mais da vida de Diana, vai conseguir entender com
clareza.
Fui enganado pelo título desse filme.
Minha mãe trocou o nome e achamos que o nome do filme era "A Secretária do
Futuro", e eu acabei achando que o filme ia ter uma pegada diferente.
O filme tenta retratar o mundo dos
negócios e como as mulheres se posicionavam no mercado de trabalho nas grandes
metrópoles na década de 80, mas acaba ficando mais na comédia romântica mesmo,
sendo mais uma dessas histórias meio "água com açúcar" de sobre como
a vida é dura, mas nos presenteia sempre no final quando nos esforçamos e
trabalhamos pra isso.
Vale pelo ótimo elenco, que inclui um
Harrison Ford jovem. É uma boa
comédia romântica, pra quem gosta do gênero, mas nada de grandioso. No fim, é
gostoso de assistir e você acaba nem vendo o tempo passar.
Outro filme que saiu do caderno do
trabalho da minha mãe é Conduzindo Miss Daisy,
filme de 1989, com Morgan Freeman e Jessica Tandy. A história começa quando
Daisy (Jessica Tandy), uma rica
judia de 72 anos, joga acidentalmente seu carro novo no jardim premiado do seu
vizinho. Seu filho (Dan Aykroyd)
tenta convencê-la de que o ideal seria ela ter um motorista, mas ela resiste a
esta idéia. Mesmo assim o filho contrata um afro-americano (Morgan Freeman) como motorista, mas
Miss Daisy se recusa a ser conduzida por este novo empregado.
Conduzindo
Miss Daisy se mostrou um filme sensível
e simples, mas com uma bonita mensagem sobre amizade e um sutil toque sobre o
preconceito. Recomendado por mostrar duas formas tão distintas de se encarar a
vida, por mostrar também como uma verdadeira relação de amizade pode nascer, e por ser quase que
uma adaptação cinematográfico do ditado: "quando um não quer, dois não
brigam".
E se comecei esse texto
com um filme de alto nível, pra fechar, tenho que falar de outro grande filme: Questão de Tempo. Lançado em dezembro
de 2013, pelo diretor Richard Curtis,
é um filme com uma temática que fala sobre viagem no tempo, mas seu foco será nos relacionamentos humanos, visto que essa temática serve apenas como recurso narrativo para que se conte a história, visando propor algumas discussões.
Vale dizer que viagens no tempo são um assunto complicado em qualquer contexto, seja ficção científica ou romance. Existem regras que não devem ser quebradas, paradigmas a serem evitados e infinitas possibilidades de destinos a serem considerados. No entanto, quando o que está em jogo é a vida de uma pessoa, sua felicidade, e não o destino do universo, a perspectiva muda muito. Por isso, alguns até irão falar de supostos furos de roteiro por não se observar certa lógica temporal, além de outras besteirinhas, porém não é sobre isso que o filme quer tratar. O paradoxo espaço-tempo é um mero recurso.
Questão de Tempo é um filme leve e reflexivo, com atores muito carismáticos, sem exageros e com um roteiro enxuto e fechadinho. O roteiro de Richard Curtis emociona ao usar o tom sentimental sem ser meloso, tocando fundo em questões se não iguais, muito parecidas com as do espectador. O filme nos ensina uma preciosa lição de moral: viva cada momento como se fosse o último, aprecie as menores coisas da vida e não será necessário reviver nada.
Um dos pontos mais altos do filme é o relacionamento de Tim com o pai, interpretado brilhantemente por Bill Nighy. Alguns diálogos são esplêndidos, e nos farão repensar fatos pessoais, fora das telas, em relação à figura paterna.
Enfim, Questão de Tempo vai além de uma simples comédia romântica. É um filme sincero, sensível, com atores carismáticas em grandes atuações, e que conseguiu me tocar. E ao fim do filme, o efeito obtido é de conforto. Relembramos certos episódios de nossas vidas, até mesmo os conflitantes, e, ao final, descobrimos que estes são nossos melhores momentos, e que muitas vezes não precisamos voltar no tempo pra ter uma segunda chance na vida, afinal, “O importante na vida é sabermos degustar cada momento que vivemos…”.
1 comentários:
Padu Aragon nos brinda desta vez com uma análise de filmes bastante distintos em relação à procedência, data de produção, estilo... Filmes por ele assistidos a partir de uma relação que lhe foi sugerida, mas mesmo com essa peculiaridade, os comentários são primorosos e dão uma idéia muito significativa de cada um. Assisti a vários deles, e os dois mais antigos são realmente especiais: Conduzindo Miss Daisy levou o Oscar de melhor filme e Jessica Tandy, o de melhor atriz, estando já com seus 81 anos. E Uma secretária de futuro é uma comédia divertida, daquelas dos anos 1980 que não se faz mais. Elenco muito afinado. Padu Aragon fala do Harrison Ford mais jovem, eu destaco Sigourney Weaver no auge de sua beleza madura, no papel de uma meia vilã, e Melanie Griffith com jeito de Meg Ryan. Gostei do comentário sobre Conversando com a mamãe, pois o cinema argentino tem mostrado originalidade, criatividade e talento em histórias muito boas. Os demais filmes ainda não assisti, mas com certeza já fazem parte de minha lista, pois a crítica de Padu é estimulante e desperta a curiosidade em conhecer as histórias. Parabéns.
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