Depois do fiasco que foi X-Men Origens: Wolverine, o personagem precisava de um longa-metragem que agradasse não somente aos fãs do personagem nos cinemas, mas aos fãs do Wolverine dos quadrinhos, os principais atingidos com o fracasso que foi o primeiro filme solo do personagem. Ainda que não seja irretocável, Wolverine: Imortal... não morre no final.
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Hugh
Jackman volta para interpretar o protagonista pela sexta vez. Um feito e
tanto, depois do fiasco de seu último filme com os X-Men. Acontece que mesmo
não havendo semelhança física com o mutante
baixinho, troncudo, invocado e feio dos quadrinhos, o ator se
afeiçoou tanto ao papel que ninguém consegue imaginar outro ator vivendo o Wolverine.
O comprometimento com o personagem é tamanho que Jackman foi buscar os
conselhos de Dwayne Johnson para
alcançar a forma física que almejava para Logan, e chegou a ficar 36 horas sem
consumir líquidos antes de filmar, para que os músculos ficassem com a
aparência mais “seca” possível. Isso faz com que mesmo com o costume que as
produtoras detentoras de franquias de heróis têm de buscar sempre em um
reinicio um ator diferente para que o público possa desassociá-lo do filme
anterior (como provavelmente acontecerá com Ryan Reynalds em Lanterna Verde), Jackman
consiga sobreviver há até mais de uma encarnação ruim do herói.
A
trama do longa-metragem é baseada na minissérie escrita por Chris
Claremont e Frank Miller em 1982, Eu, Wolverine, que nos mostra um Wolverine
que luta pelo amor da personagem Mariko e por controle. Em jogo não está apenas
o grande amor da sua vida, mas a própria humanidade do personagem. No filme,
após a morte de Jean Grey (Famke Janssen) e a aparente
dissolução dos X-Men, Wolverine voltou para seu recorrente status de reclusão,
e agora vive, isolado e barbudo, próximo a uma pequena cidade, onde tem
pesadelos recorrentes envolvendo a telepata ruiva. Ao se envolver em uma briga
de bar com um grupo de caçadores irresponsáveis, Logan conhece Yukio (Rila
Fukushima), que foi enviado aos EUA a mando de seu pai adotivo,
Yashida (Hal Yamanouchi). O ancião
está à beira da morte, e quer reencontrar o homem a quem deve a vida.
Relutante, Logan acaba concordando em viajar para o Japão.
Me surpreendeu muito o fato do
enredo não se preocupar tanto com o caráter espetacular da ação, mas sim em desenvolver
os personagens. As cenas de ação estão lá, e são muito empolgantes, mas tudo
tem uma razão de ser. A eletrizante sequencia no trem-bala, o
visivelmente impressionante ataque de flechas, o sensacional combate corporal entre Logan e Shingen, e até mesmo
a explosão atômica são cenas de arrepiar. Além disso, agora há violência de
verdade, mas com sangue moderado, o que não leva à exageros desnecessários. O
filme não precisa ter muito sangue pra mostrar a brutalidade do personagem. Eu
particularmente prefiro por esse tipo de decisão, pois odeio filmes muito
violentos.
O começo do filme é particularmente
brilhante. Não só a cena de harakiri dos militares nipônicos, uma clara
referência histórica ao Japão tradicional, com a honra acima de tudo, mas
também a exposição da solidão do herói atormentado pelo passado. Isolado numa
floresta do Canadá, aquele Logan é o Logan dos quadrinhos. E isso é um dos
grandes acertos do filme: o Logan dessa película é o Logan dos quadrinhos. O
filme realmente se preocupa em explicar quem é o Wolverine e os principais
dilemas do personagem: como ao longo de sua vida viu muitos dos seus amigos e
entes queridos morrerem sem poder fazer o mesmo; no seu interior há uma
selvageria a qual ele tenta manter sob controle, mas nem sempre consegue.
A trama também aborda questões como
ética, honra e tradição, que moldaram a nação japonesa no passado, procurando
também chamar a atenção para um novo rumo em andamento no Japão capitalista, em
que a corrupção enlameia o interior familiar e contrasta com os ideais do país
em seu passado.
Também é positiva a questão do
números de mutantes adicionados na história, que reduziu; apenas focando em
desenvolver os personagens que são realmente importantes para o roteiro.
Quanto ao elenco, Hugh Jackman, como
sempre, está à vontade no papel e aqui se mostra totalmente em casa, retratando
inclusive um Wolverine mais brutal e irônico do que nunca. Além
dele, o destaque vai para a estreante Rila Fukushima, muita carismática no difícil papel de Yukio. Também gostei de Tao Okamoto, que além de linda
interpreta uma delicada e aparentemente frágil Mariko, mas que ao longo do
filme vai mostrando um outro lado, mais firme e decidida. O romance dos dois é também
muito bem desenvolvido na minha opinião, principalmente na parte da história em
que os dois passam um tempo no interior do Japão. Essa parte do filme é belíssima.
Wolverine:
Imortal consegue ser irretocável até seu arco final, onde explodem aí na
tela os vilões cartunescos, que explicam seus planos, demonstram poderes e
cometem suas atrocidades, no caminho devastando um dos grandes personagens
japoneses da Marvel, o Samurai de Prata. Eu não sou contra adaptações feitas no
cinema, desde que tudo seja bem feito. Mas essa distorção do cânone não fez o
menor sentido. O filme tinha tudo tomado um rumo tão distinto, e é
decepcionante esse final abrupto, onde nada parece fazer muito sentido.
Carecemos até da mais simples das explicações científicas e lógicas pro que
está acontecendo. Nada faz muito sentido. Bem X-Men dos anos 90, com
reviravoltas desnecessárias ao roteiro. Devo admitir que o final realmente me surpreendeu,
mas o final mais óbvio, que poderia culminar num belíssimo embate entre Logan e
Shingen seria muito melhor do que o que nos foi apresentado.
Outro defeito que é evidenciado no
final é a ausência de vilões marcantes, pois os exagerados Víbora (Svetlana Khodchenkova) e Samurai de Prata, e o perdido Harada (Will Yun Lee), acabam por deixar de lado Shingen (Hiroyuki Sanada), um guerreiro humano que certamente poderia ser
muito melhor aproveitado como grande vilão da trama. O problema não está na
atuação dos personagens, mas no roteiro que faz Víbora e Harada vagarem
pra lá e pra cá desempenhando funções de forma quase aleatória, aparentemente
sem objetivos muito definidos.
Resumindo, o filme é muito bom, mas
degringola no final. Uma pena, já que o final toma um rumo tão diferente de
tudo que estava sendo apresentado ao longo de todo o longa-metragem.
Ah, e não saia do cinema antes dos
créditos finais, pois há uma cena fantástica e importantíssima para X-Men: Dias de um Futuro Esquecido,
previsto pra maio do ano que vem.
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