O retorno
do Super-homem às telas de cinema não poderia ser melhor. Comandado por nomes
que há muito já fazem sucesso entre esse tipo de produção, o novo filme do azulão atende
à todas as expectativas e já é, sem nenhuma dúvida, um dos melhores filmes do gênero
já feitos.
Todo mundo fala do fracasso que
foi Superman
Returns. Eu mesmo ainda não tive a oportunidade de ver
o filme, mas já li bastante a respeito do mesmo, e o filme parece ser um tanto
quanto injustiçado. Superman Returns
foi um tipo de continuação do clássico Superman
II, coisa que todos os antigos fãs queriam.
O problema é que o estilo do filme funcionava bem na década de 70,
quando o filme foi produzido, e um dos maiores atrativos eram os efeitos
especiais do voo do herói. Hoje em dia, porém,
qualquer filme faz isso, e o filme foi um fracasso de bilheteria. Em
função principalmente disso, a Warner resolveu mudar tudo e lançar um reboot da
história do homem de aço. Zack
Snyder,diretor, e Christopher
Nolan, produtor, tinham como objetivo trazer um dos mais
icônicos e importantes super-heróis de todos os tempos de volta ao gosto do
público.
É até difícil falar sobre o
Superman. Criado em 1938, na revista Action Comics #1,
o personagem definiu o gênero de super-heróis nos quadrinhos. Ao longo do
tempo, ganhou diversas histórias de origem, contadas e recontadas diversas
vezes, das mais variadas formas, por diferentes escritores. O Homem de Aço é mais do que uma nova
origem, mas, sim, uma completa releitura do personagem, adaptado não só para se
adequar à linguagem cinematográfica, mas também para se adequar a uma visão de
mundo mais atual, a mesma visão que, em 2005, foi responsável pela releitura do
Batman. Man of Steel mostra que
devemos, sim, respeitar o passado, mas, mais do que isso, devemos viver o
presente. Como li certa vez, "os super-heróis de hoje não são os
super-heróis de ontem".
O
Homem de Aço conta aquela história que praticamente todo mundo conhece:
Clark Kent (Henry Cavill) é um homem
que cresceu aprendendo a lidar com poderes além da compressão das pessoas. Após
anos tentando entender a si mesmo e as suas origens, Clark descobre que é
descendente de Krypton, um avançadíssimo planeta alienígena destruído há muito
tempo atrás, e que foi enviado para a Terra por seu pai kryptoniano, Jor-El (Russel Crowe). Kal-El foi encontrado e
adotado por Jonathan (Kevin Costner)
e Martha Kent (Diane Lane), que o
ensinaram a ter controle sobre os grandiosos poderes que carregava. Educado sob
os valores humanos de seus pais adotivos, Clark descobre como pode usar seus
poderes para ajudar o planeta que o acolheu quando a Terra é atacada pelo
destrutivo General Zod (Michael Shannon),
um também sobrevivente do planeta Krypton, abrindo assim caminho para se tornar
o maior herói que o mundo já conheceu.
A principal premissa que o roteiro
usa para construir o enredo é a questão de mostrar Clark Kent como alguém
desajustado à sociedade por ser diferente. Clark é um alienígena perdido num
mundo que não é o seu, que passou a vida com medo de mostrar quem realmente é
porque os humanos, em geral, hostilizam aquilo que não compreendem. A opção de
contar a história fora de ordem, através de flashbacks, funciona muito bem, já
que vamos pouco a pouco conhecendo a construção de seu caráter e as preocupações
de seus pais para com seus poderes.
Jor-El fala num dado momento: “Ele será um deus para eles.”
Superman é praticamente um deus, que sempre teve esse caráter de messias, de
salvador da humanidade. E nesse filme isso fica bem explícito. Reparem na cena
em que o herói sai de uma nave com os braços abertos ou quando ele diz que
possui exatos 33 anos. Sem contar com Jor-El deixando bem claro que ele pode
trazer a iluminação para os humanos.
O Homem de
Aço traz também a
discussão sobre as implicações trazidas pela chegada de alguém como o Superman
à Terra, sobre como todas as religiões e filosofias deveriam ser repensadas.
Isso tudo traz um tom muito mais realista ao longa.
Man
of Steel talvez seja mais um filme de ficção científica do que de um filme de
super-heróis propriamente dito, justamente por nos apresentar uma história tão
bem elaborada, e, que por mais fantasiosa que seja, tenta ao máximo ter os pés
no chão. Tudo nesse filme tem um porque. Desde os poderes dos kryptonianos até
o traje do Superman, nada está ali por acaso.
Falando nos personagens, todos os
atores principais, sem exceção, estão excelentes. Henry Cavill está
fantástico como Superman. Russell
Crowe, como sempre, é fora de série, e Kevin Costner, mesmo
com tão pouco tempo em cena, consegue emocionar como pai adotivo de Clark,
assim como Diane Lane. Michael Shannon é um
caso a parte: há tempos não via vilão tão bom quanto esse General Zod.
Intimidador, esse General Zod se revela uma versão
filosoficamente antagônica para o Superman, ainda que não seja realmente um
vilão. Zod acredita verdadeiramente em sua causa e no sistema da sociedade que
o criou. Ele representa a opressão criada pela impossibilidade do
livre-arbítrio, e o vazio que a falta de uma opção pode proporcionar. Apesar de
seus objetivos e de sua crueldade, entendemos a dor e as limitações de sua
existência pré-determinada. Em dado momento, já no clímax do filme, Zod
diz: "Em cada atitude minha, ainda
que cruel, eu luto para o bem estar do povo de Krypton. Para a nossa
sobrevivência.". Não dá pra você não sentir empatia por ele. Já a atriz Amy Adams, que
interpreta Louis Lane,
cumpre bem o seu papel. Apesar de seu personagem ser, em termos
de roteiro, desnecessário, ela se encaixa muito bem na trama. Além disso, vale
destacar a excelente química entre Amy e Cavill.
Durante anos, uma das grandes
questões sobre os filmes do Superman foi a falta de ação. Sempre se falava
sobre explorar vilões a altura do Superman e sobre fazer sequências de luta
mais impactantes. No quesito ação, Zack
Snyder mostra como realmente seria se dois seres poderosos brigassem na
Terra. Assistir o combate entre Superman e Zod é como assistir dois deuses
brigando. E eles usam todos os poderes que tem à disposição, seja o voo, a
superforça ou a visão de calor, sem contar objetos que aparecem ao redor, como
postes ou caminhões. A ação é, sem dúvida nenhuma, épica, e os combates são
dignos de Dragon Ball Z. Só a luta aérea entre Zod e Superman já vale o preço
do ingresso. Os efeitos especiais estão espetaculares, e esse é um dos filmes
esteticamente mais bonitos que já vi. Obviamente, milhões de pessoas
provavelmente morreram durante esses confrontos, e isso acaba sendo meio
inevitável num combate entre deuses.
Superman é o principal dentre os
deuses de um grande panteão, algo que se aproxima bastante com o que sempre foi
o conceito de super-heróis da DC, que, diferente da Marvel, são mais divindades
do que humanos com super-poderes.
Vale ressaltar o trabalho feito na
primeira parte da história, toda rodada em Krypton. É lindo demais, e achei
essa ideia de contar parte da história fora da Terra mais uma das sacadas
geniais do filme.
A trilha sonora de Hans Zimmer amplia o impacto e
imponência de cada cena, com batidas cadenciadas nos momentos mais calmos, que
vão crescendo nos momentos mais épicos. A trilha reforça o caráter épico do
filme, e emociona em cada cena.
Certa vez, comentei da importância
do papel do Superman pra sociedade, e de que como ele sempre foi criticado,
inclusive por mim, por ser um herói puro demais, não se adequando ao nosso
mundo. Hoje em dia todo mundo gosta de uns tons de cinza nos personagens, e
esse é justamente o problema dele: Superman não tem esse lado ruim. Ele é a
bondade encarnada, o que o torna pra muita gente chato. Mas, essa é também sua
maior virtude. Muita gente temia que O Homem
de Aço mudasse a essência do Superman, o tornando um personagem mais
sombrio. Na minha opinião, isso não acontece. Simplesmente, ele parte pra ação
quando necessário. Não se controla, mostra tudo o que tem. Mas em momento algum
ele perde aquilo que o faz ser um símbolo para a humanidade. Afinal, ele abre
mão de tudo, se entrega de corpo e alma em prol da humanidade, e, afinal, não é
de pessoas assim de que tanto precisamos num mundo como o nosso?
Enfim, O Homem de Aço mostra que é possível juntar história densa,
personagens profundos, visual impressionante e ação desenfreada na construção
de um filme de super-heróis. Na minha opinião, o filme do ano, disparado. E um
dos melhores, se já não for o melhor, filmes do gênero.
SPOILERS!
Há muito polêmica em torno da forma
como o General Zod é derrotado. O Superman mata ele. O que não significa que
ele não terá esse código de não matar no futuro.
O Homem de
Aço é uma nova
história de origem, e nessa nova história, o Superman está aprendendo com seus
erros. Sua aversão à morte, aparentemente, está sendo construída. Ele não gosta
da ideia de matar, mas o faz mesmo assim porque se vê sem outra opção. Ou ele mata
Zod, ou Zod mata uma família de humanos com a visão de calor. O próprio Zod se
coloca nessa posição, pois uma vez que teve seu plano frustrado, não tinha mais
motivos para viver, por isso, força o Superman a matá-lo. Depois de tomar essa
decisão, pode ser que o Superman assuma uma posição mais firme quanto a não
matar. A própria reação de desespero do herói após matar Zod deixa claro que
aquele Superman, puro e escoteiro, está ali, mas a inocência se foi.
Superman fez o que o Superman
realmente faria em uma situação difícil, proteger a raça humana. Essa é a
essência do personagem. Era matar ou ser morto, e ele não tinha outra escolha.
A vida é feita de escolhas, nem sempre elas são simples, e muitas vezes vão
contra nossas crenças e nossos códigos morais. O Superman normalmente toma
todas as medidas possíveis para evitar a morte de um inimigo, mas, nos
quadrinhos, ele já tomou essa decisão extrema, algumas vezes, para salvar
vidas.Entrelinhas
Aproveitando o embalo do filme, a editora Fantasy lançou o livro Os Últimos Dias de Krypton, que narra os derradeiros dias finais do planeta, e os eventos que antecedem o filme. Já encomendei o meu, mas ainda não tive a oportunidade de ler. Porém, tenho lido muito bem a respeito da obra por aí na internet.
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