Aproveitando
a onda do filme O Homem de Aço, que
trouxe de volta o Superman para os cinemas em grande estilo, a editora LeYa
resolveu trazer para o Brasil o livro Os
Últimos Dias de Krypton, de Kevin J.
Anderson, que, como o próprio nome já
diz, conta a história dos últimos dias do planeta Krypton, antes de sua
fatídica destruição. Sem nenhuma relação cronológica direta com os quadrinhos,
o livro é um prato cheio pra quem quer conhecer um pouco de uma das partes do
universo do herói menos exploradas.
"Antes da calamidade que fez com
que o pequeno Kal-El - Super-Homem - fosse enviado num foguete rumo a um futuro
extraordinário em que viveria como herói, seu planeta natal, Krypton,
prosperava. Antes da traição, da tecnologia e da natureza conspirarem para
condenar uma civilização incomparável, os pais de Kal-El - o brilhante
cientista Jor-El e a bela artista e historiadora Lara - se conheceram, se
apaixonaram e se casaram. Houve grandes heróis naqueles dias tranquilos. Mas,
claro, apareceram os vilões: o androide
maligno Brainiac, que capturou a cidade de Kandor, o diabólico General Zod, que
usou de mentiras e do caos para tomar o poder e ascender à liderança em uma era
de crueldade, repressão e terror.
E, em meio a tudo isso, uma tragédia
fatal se aproximava - um destino catastrófico profetizado por Jor-El, que
mudaria a história Kryptoniana para sempre, mas daria à terra um dos maiores
super-heróis de todos os tempos."
A proximidade temporal entre o
lançamento desta obra e o filme de Zack Snyder é uma faca de dois gumes. Isso
porque Os Últimos Dias de Krypton
foi publicado em 2007, muito antes do projeto de O Homem de Aço sair dos papeis. Por isso, apesar dos personagens
serem os mesmos, há uma falta de conexão entre os dois roteiros. Não
encontramos aqui alguns dos principais elementos que foram introduzidos no
filme. Resumindo: muitas coisas se encaixam e fazem sentido no longa-metragem olhando
pela perspectiva do livro, e os personagens do filme ganham uma profundidade enorme,
mas algumas coisas não fazem o menor sentido se olhadas em paralelo ao "plot"
do filme.
A trama acontece cerca de 1 ano e
meio antes da destruição fatal de Krypton, e vemos um pouco da vida no planeta
de Kal-El. Seu pai, Jor-El, é um cientista brilhante, mas vive frustrado por
não conseguir fazer com que seus geniais inventos sejam utilizados para o bem
da sociedade Kryptoniana. Isso tudo porque tudo o que ele cria precisa ser
levado a um Conselho e analisado pela Comissão para Aceitação de Tecnologia,
chefiado pelo comissário Zod. Se ficar provado que a tecnologia pode ter um uso
para guerra ou hostilidades, ela é destruída. Ou seja, quase nada é aprovado!
Conhecemos também melhor a mãe de
Kal-El, a artista Lara, o próprio irmão de
Jor-El, Zor-El, governador de Argo City, sua mãe, e claro, o comissário Zod,
que é quase tão protagonista quanto Jor-El.
Uma das coisas mais legais do livro é
que ele explica muito bem algumas questões que não devem abandonar a cabeça de
quem assiste ou lê as histórias do Super-Homem: como que uma civilização tão
avançada como Krypton teme tanto o uso de tecnologia e vida extraterrestre? Como
eles foram incapazes de prever e conter uma iminente tragédia natural? E a
maior de todas as perguntas: se Krypton era uma sociedade tão avançada, e se
Ka-El chegou são e salvo na Terra, por que os kryptonianos não fugiram do
planeta em naves? O porquê disso tudo isso é explicado no romance, e de forma
genial.
A principal mensagem do livro é
sobre o uso da tecnologia para o mal, para a guerra e contra a população. A
mesma tecnologia que pode ser usada para salvar vidas, pode ser usada para
matar, dependendo da situação.
Krypton pegou essa regra e
extrapolou ao máximo, chegando ao ponto de não se prevenir contra invasões
vindas de fora, como de fato acontece duas vezes. Fica claro que existe uma
linha bastante fina entre defesa e paranoia, entre negligência e proteção e
Krypton infelizmente perde para a própria ingenuidade, o que acaba gerando
cidadãos insatisfeitos com o sistema, como Zod. Justamente por isso, há
momentos em que dá vontade de torcer para o vilão, pois ele está lutando contra
um sistema negligente e que pode levar o planeta à ruína. Mas aí o autor entra
com uma crítica forte às ditaduras que se auto proclamam necessárias, e que,
inicialmente, são importantes para a reestruturação de uma nação em pedaços,
mas que acabam sempre culminando em um governo de repressão e terror.
Em oposição ao medo que uma ditadura impõe, cada página lida aumenta um pouco a
angustia de saber que a burocracia e o comodismo de uma "democracia"destruíram uma civilização tão
avançada. É assustador como os Kryptonianos são tão parecidos conosco.
Outro fato que ganhou destaque em certo
momento da história e que ainda não saiu da minha cabeça é a mensagem de que a história é
sempre contado pelo lado do vencedor.
"Os melhores inimigos são os
inimigos fabricados, por dois motivos: um, nós não temos nada com que nos
preocupar, e dois, a ralé entra na linha."
(Os
Últimos Dias de Krypton)
Algo positivo e inesperado, pelo
menos pra mim, foi que mesmo que a gente já saiba qual vai ser o final, todo o
desenrolar da trama é imprevisível, e até mesmo o seu desfecho sofre inúmeras
reviravoltas inesperadas. E esse final tem uma carga dramática muito boa, que
acaba mexendo com o leitor, que é pego por todo o clima de urgência da
situação.
Vale destacar também que no romance
é mostrado a origem de vários elementos recorrentes da mitologia do herói: a
origem da kryptonita, a descoberta da Zona Fantasma, Brainiac [que nessa versão
é muito menos vilão do que o eu esperava encontrar], a origem da nave que levou
Kal-El para a Terra, e até como que Jor-El ficou sabendo do nosso planeta. Além
disso, expande alguns conceitos do filme novo, como, por exemplo, ao
desenvolver personagens como Nam-Ek e Aethyr. Além disso, há vários easter eggs
do universo do herói que os mais fanáticos vão pegar rapidinho.
Infelizmente, nem tudo são flores.
Achei que alguns eventos que são responsáveis por movimentar a história sucedem-se
de forma meio abrupta: coisas que surgem do nada e desaparecem, apenas para
produzir os efeitos ou simplesmente motivações para a continuação do livro.
Como exemplo principal, está a aparição do já citado e conhecido vilão
Brainiac.
Falta ritmo também em algumas
partes, e algumas das descrições de cenário são difíceis de acompanhar, dificultando a
visualização da paisagem e tecnologia alienígena. Faltou também o autor
acrescentar um ambiente um pouco mais alienígena ao planeta, com uma cultura
mais rica e diferenciada da nossa.
Apesar desses pequenos defeitos, o
saldo é muito positivo. Apesar de ter sido pensado para um leitor fã de HQ, sua
história é bem fechada e não precisa de nenhuma explicação externa. Se você
nunca leu nada de Superman na vida, mas se interessou pelo universo do herói
depois do último filme, vai conseguir entender toda a trama numa boa. Leitura
recomendada!
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