A Coleção Oficial de Graphic Novel Marvel

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

No final de 2011, a Marvel Comics, através da editora europeia Hachette, lançou em alguns países de língua inglesa um compilado de suas principais histórias em formato Graphic Novel, dividindo a coleção em 60 volumes, cada um dedicado a um arco ou minissérie fechados. A iniciativa visava pegar carona no sucesso dos filmes da Marvel Studios e trazer novos fãs ao universo dos quadrinhos, além de oferecer aos velhos leitores um material colecionável de qualidade.
            A iniciativa deu tão certo que a coleção acabou saindo ao longo de 2012 em outros países europeus e chegou ao Brasil no mesmo formato de luxo através de uma parceria entre a Panini e a editora Salvat.
            Adquiri os primeiros volumes no final do ano passado. Os livros têm um ótimo acabamento, capa dura e alguns extras. É muito difícil encontrar por aí um material de tamanha qualidade por apenas R$29,90. O único problema é que os encadernados são lançados quinzenalmente, o que pode acabar por ser um peso no orçamento, ainda mais se levarmos em conta que ao todo serão 60 volumes.
            Atualmente já foram lançados dez edições: O Espetacular Homem-Aranha – De volta ao Lar, X-men -Superdotados, Os Vingadores - A Queda, Thor - O Renascer dos Deuses, Os Supremos - Super-Humano, Capitão América - Tempo Esgotado, O Espetacular Homem-Aranha - A Última Caçada de Kraven, Marvels, Guerra Secreta e Demolidor - A Queda de Murdocke.
            O primeiro dos encadernados que eu li foi Vingadores - A Queda, escrito por Brian Michael Bendis e ilustrado por David Finch, que ganhei de presente no dia das crianças (aqui em casa temos o hábito de ganhar presente no dia das crianças, não importa o quão mais velhos fiquemos a cada ano). Esta saga mostra o fim dos Vingadores na sua formação mais duradoura, que vinha sendo publicada desde os anos 60. A trama toda gira em torno do que viria a ser considerado o pior dia da história dos Vingadores. Atacados por todos os lados por um inimigo desconhecido, eles vão testemunhar a morte de companheiros, traições e revelações estarrecedoras.
            Uma coisa que me chamou a atenção nesse encadernado foi como em tão poucas páginas eu já estava imerso na história, com o coração na mão, diante de um ataque tão avassalador. Eu realmente me senti dentro da trama, sentindo as mesmas emoções dos personagens. Há algumas mortes, o que é sempre chocante, muita tristeza e a até mesmo a dúvida de como os Vingadores vão poder continuar, estando tão perdidos. Apesar do enorme número de personagens da Marvel que aparecem no meio da história, acredito que não seja difícil para quem não está muito por dentro da cronologia da editora acompanhar a história, já que eu mesmo não sabia muita coisa do que tinha acontecido antes, e consegui entender tudo numa boa, tirando proveito de tudo que a história me oferecia. É uma leitura rápida, sem muitas camadas ou mensagens a serem exploradas, mas que entretém.
            Apesar do balanço ser positivo, a história é meio corrida, e tudo se resolve rápido demais. Situações extremas são criadas e resolvidas repentinamente. O desfecho, apesar de inesperado e corajoso, também acontece muito rápido, e vai ser melhor aproveitado por quem já vem acompanhando as mensais dos Vingadores há bastante tempo, que acaba por entender melhor o background do vilão. Porém, a exibição de fragilidades e facetas desconhecidas dos personagens, a abordagem mais séria, e as belíssimas ilustrações dão um sabor especial à saga.
            Vale ressaltar um momento belíssimo em que, em uma conversa, cada um dos heróis tenta relembrar qual foi o grande momento dos Vingadores, e acontece uma homenagem fantástica a própria história da superequipe.
            O segundo volume que eu li, e que na verdade foi o primeiro a ser lançado e o primeiro que eu comprei, foi O Espetacular Homem-Aranha – De volta ao Lar, escrito por J. Michael Straczynski e ilustrada por John Romita Jr.
            Esse arco é bem polêmico. Dei uma pesquisada na internet, e vi que as opiniões divergem muito: teve gente que curtiu a ideia dessa trama, mas também teve muita gente, acredito que a maioria, que achou que Straczynski nunca devia ter mexido onde mexeu. Deixa eu explicar: Straczynski adicionou um misticismo nas histórias do Aranha que nunca tinha sido explorado antes. Ele lançou a seguinte dúvida: E se a aranha radioativa que picou Peter Parker já estivesse destinada a passar suas habilidades para alguém? E, simplesmente pelo fato de ter sido exposta a radiação e ficado à beira da morte, precisou apressar o processo e escolheu Peter por estar mais próximo? Você prefere acreditar numa aranha irradiada concedendo poderes a um adolescente ou numa antiquíssima linhagem de totens ancestrais passando suas habilidades a humanos de geração a geração? Muita gente não curtiu essa remexida nas origens do personagem, já que esses argumentos não combinam com a sua origem, lá na década de 60, que visava justamente criar algo mais próximo da realidade dos leitores.
            Eu particularmente estava curtindo bastante a história até o final do segundo "capítulo". Tinha mistério, com a introdução de um novo personagem cheio de mensagens enigmáticas, Ezekiel, que tem poderes exatamente iguais aos do amigão da vizinhança. Tinha também um Peter Parker mais maduro e preocupado com os problemas que ele pode solucionar, e não o Homem-Aranha. Peter tinha acabado de passar por fases bem complicadas, incluindo a separação de Mary Jane (tudo isso é explicado na seção "a história até aqui", seção que há em cada um dos volumes e que conta os eventos que levaram ao arco do encadernado que você tem em mãos). Achei muito legal ele ir dar aula no mesmo colégio que estudou quando era adolescente, pra ajudar aqueles estudantes que enfrentam as mesmas dificuldades, e o mesmo tipo de valentões, que ele já teve que enfrentar, e que essas pessoas ele não pode ajudar sendo o Homem-Aranha, mas sim sendo Peter Parker.
            Mas daí pra frente é tudo ladeira abaixo. Eu não engoli essa possibilidade de que a picada da aranha radioativa pode não ter sido tão aleatória assim, com uma conspiração de forças totêmicas que escolheram Peter como herdeiro natural de um poder histórico. Há também um novo inimigo, Morlun, que é apresentado como um tipo de predador do Homem-Aranha, que precisa de seus poderes totêmicos para sobreviver, e que é um vilão pra lá de genérico. Achei interessante uma saída para aquele velho problema do surgimento de um supervilão num universo com super-heróis: “se ele causa tanta destruição, porque nenhum outro herói apareceu?”. Há uma tentativa de explicação, que apesar de superficial, foi uma boa sacada.
            Enfim, o grande problema dessa história é que ela começa muito bem, mas adiciona elementos místicos demais para uma revista do Homem-Aranha, e caí num final clichê de histórias em quadrinhos.
            Vale deixar bem claro que Straczynski apenas introduz o conceito de que muitas pessoas recebem poderes através de ícones animais, que eventualmente compartilham suas habilidades com humanos em certas ocasiões de necessidade. Com isso, ele então sugere ao leitor que Peter Parker tenha recebido seus poderes aracnídeos desta forma, e o fato da aranha ter sido irradiada teria sido apenas uma coincidência. Ele sugere. Não afirma. Mas nos faz pensar sobre essa perspectiva, o que abre um novo leque de possibilidades. E o que nos deixa bem claro que ele pretendia abalar as convicções do personagem sobre a sua real origem.
            Infelizmente pra quem gosta dessa lado mais místico das HQs, e felizmente para quem prefere a pegada mais scy-fi da Marvel, o que acredito que seja a maioria de seus leitores, a ideia não foi muito bem recebida pelo público, e o tema nuca mais foi abordado.
            Pra não deixar de mencionar o trabalho de ilustração, a arte de John Romita Jr. é muito boa, apesar de carecer de detalhes, como os vistos em Vingadores - A Queda e Capitão América - Tempo Esgotado.
            E pra finalizar esse texto vou falar do último volume que li, Capitão América - Tempo Esgotado, escrito por Ed Brubaker e ilustrado por Steve Epting.
            Capitão América - Tempo Esgotado foi uma grata surpresa. Eu não esperava muito desse encadernado. Para ser franco, apesar deu gostar do Capitão América, não esperava muito de suas histórias, achava que elas seriam bidimensionais demais. O que aconteceu foi justamente o contrário: encontrei uma história de espionagem sensacional, repleta de reviravoltas inesperadas, um roteiro muito bem amarrado e sem exageros narrativos, e um Capitão América humano e cheio de camadas. Não consegui parar de ler até terminar toda a história. O problema é que o encadernado não contém a saga completa, então, quando o enredo está próximo do seu desfecho, a diversão chega ao fim, e temos que esperar até o lançamento do outro volume. A boa notícia é que a continuação está prevista para ser lançada agora no começo de 2014, portanto, não teremos que esperar tanto para conhecer o desfecho da saga.
            Brubaker prova que não existe personagem ruim ou limitado, e sim maus roteiristas. Adorei o seu Capitão América, e se o personagem mantiver a pegada desse arco em histórias futuras, virarei fã do herói.
            Mas o que seria de um bom roteiro sem um grande artista pra engrandecer ainda mais o seu trabalho? Os desenhos de Steve Epting são lindos. Talvez eu seja suspeito pra falar, porque adoro essa pegada mais realista e detalhada, mas o fato é que a arte desse volume me fez ficar ainda mais imerso na história. O único problema que encontrei é que em algumas das vezes em que é mostrado o rosto de um personagem em close, numa tentativa de dar dramaticidade, há um pouco de falta de expressão, pois todos parecem estar sempre com a mesma cara. Mas nada que tenha me incomodado muito, pois seus desenhos são alguns dos mais bonitos que já vi em HQs da Marvel.
            Vale dizer que a história de Brubaker é contada com o auxílio de flashbacks memoráveis desenhados por Michael Lark, que mostram o Capitão e Bucky agindo nos anos 1940, durante o conflito mundial, com aparições especiais do Barão Zemo, Namor, Tocha Humana (o andróide, não o membro do Quarteto Fantástico) e seu sidekick Centelha.
            Enfim, vale a pena adquirir Capitão América - Tempo Esgotado, mesmo se você não for um grande fã do personagem.

1 comentários:

Paulo Rennes Marçal Ribeiro disse...

O que posso eu dizer que seja diferente dos comentários que faço após ler os textos de Padu Aragon? Desta vez ele me estimulou a ir atrás dessa coleção Marvel. Eu era criança quando comecei a ler as primeiras revistas Marvel publicadas no Brasil, e ainda tenho várias delas novinhas e originais, todas dos anos 1970... Ver todo o sucesso que estas histórias estão fazendo mais de quarenta anos depois é muito gratificante. Parabéns Padu, pelo seu estilo, pelo seu texto, pelo estímulo, pela nostalgia.

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