O Batman é pai. Esta foi a principal
novidade que Grant Morrison colocou
na vida do Homem-Morcego quando assumiu a série principal do personagem, em
2006. O arco, muito aclamado lá fora e no Brasil, foi lançado por aqui na
revista mensal Batman, da editora Panini, em 2007, e ganhou recentemente uma
coletânea de luxo. Eu esperava muito desse encadernado, e fiquei muito feliz
quando o ganhei, de uma amiga, de presente de natal. Mas será que a realidade
correspondeu às minhas expectativas?
Grant Morrison criou o personagem
Damian Wayne, um filho do Batman com Talia Al Ghul, a filha do vilão Ra’s Al
Ghul. Para isso, o escritor se aproveitou de uma ideia lançada na graphic novel
Batman: O Filho do Demônio, lançada
em 1987 e escrita por Mike W. Barr e desenhada por Jerry Bingham. Naquela
história, um inimigo comum obriga uma aliança entre o homem morcego e Ra’s Al
Ghul. Mas o reencontro com sua filha, Talia, reacende velhos sentimentos e os
dois vivem um breve relacionamento, que termina com Talia grávida. Contudo,
como o vilão percebe que Batman muda sua postura, assumindo um comportamento
superprotetor em relação a Talia, ela e o pai fingem um aborto natural. Apesar
de retirado da cronologia oficial da DC, Morrison resolveu resgatar essa ideia,
dando início ao arco Batman & Filho.
O encadernado da Panini reúne, ao
todo, 7 edições. Nos três primeiros capítulos somos apresentados à Damian.
Descobrimos que ele é o filho do Batman, e que também é um assassino letal,
treinado desde o dia em que nasceu por mestres da Liga dos Assassinos, o que
torna, apesar de seus 10 anos, um Robin muito menos vulnerável, e muito mais
perigoso. Seu grande problema? Lhe falta disciplina, e é por isso que Talia o
joga nas mãos do pai. "Falta a ele disciplina e a mão de um grande homem para
direcioná-lo."
Fica muito claro desde o início que
há algo sinistro por trás disso tudo. Afinal, porque que depois de 10 anos uma
das maiores inimigas do Batman ia aparecer com um suposto filho seu, e
simplesmente o jogar nas mãos do herói? Como se isso fosse a coisa mais normal
do mundo. O problema é que parece que o Batman é o único que não percebeu isso.
Por mais que ele não confie plenamente no filho, e que o mantenha sob
vigilância, em alguns poucos quadros ele já está na batcaverna. O Homem-Morcego,
tão conhecido por não confiar em ninguém, nem ao menos faz um exame de DNA, ou
parece se preocupar com o perigo em potencial que o menino pode ser.
Mas com um pouco de suspensão de
descrença com relação a isso, podemos tirar proveito do que de melhor essa HQ
nos apresenta: o relacionamento entre pai e filho. Eu sempre gostei da dinâmica
dos dois personagens. Sempre tive interesse em adquirir essas histórias porque
me agradava muito a ideia de ver um Robin que era, de fato, filho do Batman. Um
Robin que ele seria obrigado a aceitar e educar. Um Robin que ele não teria que
ensinar a lutar, mas sim a ter respeito, disciplina, e obediência. A relação
entre Damian e o Robin atual, Tim Drake, é muito boa também. Pra mim isso
resume o que Grant Morrison fez de melhor em sua passagem pelo personagem: o
relacionamento entre pai e filho, entre um herói disciplinado e um garoto
agressivo, mimado, explosivo e com um instinto assassino. Pena que isso tudo é
abordado de forma muito breve nesse volume.
Infelizmente, a parte boa de Batman & Filho para por aí. A
história que se passa por trás desse encontro pai e filho é muito genérica.
Achei também muito desnecessário o uso de soldados-morcego pela Liga das
Sombras. É uma história do Batman, e não da Liga da Justiça. Não precisava
forçar tanto a barra, bastava colocar uns superninjas e dava no mesmo. Fora que
eles não acrescentaram nada à trama, pelo menos não a desse livro.
O arco inicial do Damian tem fim no
capítulo 3, e do 4 ao 6 temos uma história que quase não tem relação com os
primeiros capítulos e com o título do encadernado, e que, ainda por cima, não
tem um final. Batman & Filho traz
apenas o início de uma longa fase, portanto é de se esperar que algumas pontas
ficassem soltas. O grande problema é que o encadernado termina sem pé e nem cabeça. E ainda por cima temos um
capítulo final que é um tipo de futuro alternativo, que está mais pra
Motoqueiro Fantasma do que pra Batman.
A arte de Andy Kubert também não
está grande coisa. Apesar de alguns desenhos bem bonitos, não gosto desse tipo
de arte "preguiçosa", em que parece que o artista fez os quadros com
pressa, não detalhando ou trabalhando muito no cenário e nos detalhes dos
personagens. Além disso, o desenho é meio desproporcional em alguns quadros e
muitas vezes é confuso de se acompanhar a ação.
Enfim, eu esperava muito mais,
principalmente por essa fase do Morrison ser tão elogiada. Infelizmente, foi um
péssimo começo, principalmente por ser um encadernado e nada se fechar na
história.
Há também um conto em prosa entre os
capítulos, O Palhaço Á Meia Noite,
que mostra o retorno do Coringa. Comecei a ler e achei bem perturbador.
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