Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald: Vale o Preço do Ingresso?

sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Depois do sucesso de Animais Fantásticos e Onde Habitam e do anúncio de que suas continuações iriam explorar o icônico embate entre Alvo Dumbledore e Grindelwald, todos estávamos ansiosos pelo mais novo filme da franquia. Mas daí saíram as primeiras críticas, e a galera parece bem dividida: de um lado, temos alguns fãs da franquia maravilhados com o longa-metragem, e do outro, temos gente criticando a empreitada de J. K. Rowling como roteirista. Afinal, o que aconteceu?

AFINAL, QUAL A HISTÓRIA DO NOVO FILME DA FRANQUIA ANIMAIS FANTÁSTICOS?

Em 2016, pudemos revisitar o mundo mágico de Harry Potter através dos olhos de Newt Scamander, o excêntrico magizoologista que escreveu Fantastic Beasts and Where to Find Them, livro usado por Harry como material didático nas aulas de Trato das Criaturas Mágicas, em Hogwarts. O filme fora levemente inspirado no livro homônimo, lançado em 2001, e acompanhamos a viagem do magizoologista à cidade de Nova Iorque com sua maleta, um objeto mágico onde ele carrega uma coleção de fantásticos animais do mundo da magia que coletou durante as suas viagens. Em meio a comunidade bruxa norte-americana que teme muito mais a exposição aos trouxas do que os ingleses, Newt precisou usar suas habilidades e conhecimentos para capturar uma variedade de criaturas que acabaram saindo acidentalmente de sua maleta e começaram a causar uma enorme confusão nas ruas da cidade.

Mas Animais Fantásticos e Onde Habitam não se tratou apenas da jornada de Newt. Enquanto o bruxo perseguia seus animais fantásticos, éramos apresentado a  problemática do bruxo Grindelwald, um dos mais terríveis bruxos da história da magia, que aterrorizou a Europa Continental nas décadas de 1930 e 1940. Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald dará continuidade a história que começou a ser contada em 2016: no final do primeiro filme, o poderoso bruxo das trevas, interpretado por Johnny Depp, foi capturado pela MACUSA (Congresso Mágico dos Estados Unidos da América) com a ajuda de Newt Scamander (Eddie Redmayne). Mas, cumprindo sua ameaça, Grindelwald escapou da custódia e começou a reunir seguidores, a maioria desavisada de sua verdadeira intenção: criar magos de sangue puro para dominar todos os seres não-mágicos. Para isso, o vilão está atrás dos poderes de Credence Barebone (Ezra Miller, “Liga da Justiça”), que se escondeu em Paris após os eventos do primeiro filme e busca conhecer seu passado. Em um esforço para frustrar os planos de Grindelwald, Alvo Dumbledore (Jude Law) recruta seu ex-aluno Newt Scamander, que concorda em ajudar, desconhecendo os perigos que estão por vir.



AFINAL, ANIMAIS FANTÁSTICOS: OS CRIMES DE GRINDELWALD VALE O PREÇO DO INGRESSO?

Resenhar Os Crimes de Grindelwald é muito difícil, pois como fã da franquia eu saí muito empolgado e animado da sessão. O filme tem tantas referências, easter-eggs e plot-twists que eu fiquei vidrado na tela do cinema do início ao fim, e saí literalmente sem fôlego da projeção, como há anos eu não saía de uma pré-estreia. A relação Grindelwald e Dumbledore é uma das coisas mais incríveis desta franquia, e Jude Law está incrível como o jovem Dumbledore. Pena que ele não é tão protagonista ainda deste filme como esperamos que venha a ser.

Bom, mas passada a euforia inicial, há de se admitir que o filme tem um sério problema: ele apresenta muitas ideias incríveis (são viradas e sacadas brilhantes), mas não desenvolve muito bem nenhuma delas. Falta o primor técnico dos roteiros dos filmes baseados na franquia literária. Como escritora, Rowling consegue desenvolver e aprofundar todas as subtramas e personagens, mas em seus novos filmes não há tempo de criarmos empatia pelos personagens ou nos aprofundarmos em suas histórias, e elanão consegue amarrar todas as pontas soltas. Há um abuso inclusive de soluções preguiçosas, como novos feitiços que funcionam constantemente como “Deus Ex-Machina”.

Outro problema é que o primeiro longa-metragem funcionava muito bem como uma aventura fechada, que conta a história de Newt Scamander, ao mesmo tempo que dá pitadas do que vinha acontecendo no mundo bruxo da época (os ataques de Grindelwald). Nessa continuação, porém, a franquia muda abruptamente de rumo para contar a história da batalha entre Dumbledore e Grindewald. Isso pra mim é um problema a partir do momento que a franquia se chama Animais Fantásticos, e que temos um grupo de protagonistas que nos fora apresentado no primeiro filme que tomam um tempo da trama que deveria estar sendo investida no arco de Grindelwald. Mas o problema não é Newt Scamander, que é um excelente personagem, é a obrigação que Rowling tem agora de inserir ele em uma história que não é dele. Não se trata mais da história de Newt, trata-se agora da história de Grindewald e Dumbledore, e JK tem que inserir o magizoologista no meio de uma das histórias mais interessantes da franquia. Num livro, em que temos páginas e mais páginas para desenvolver cada uma das subtramas, isso funcionaria melhor. Mas em um filme, sobrecarrega o roteiro.

E olha, é difícil até dizer isso diante de todas as polêmicas que envolvem o ator Johnny Deep ao longo dos últimos anos, mas com todas as ressalvas possíveis ao ator, Grindelwald rouba a cena. Dito isso, achei que faltou um pouco da carga dramática esperada de um vilão do nível de Grindelwald. Quero ter tanto medo do bruxo, quanto tínhamos de Voldemort. Neste segundo longa-metragem sua retórica é incrível, seu discurso extremamente poderoso, e fica fácil entender como ele conseguiu tantos seguidores. Mas falta um pouco do peso de um vilão do nível de Voldemort. Gostaria de ver mais o personagem nas sombras. Aliás, o nome do filme é Crimes de Grindelwald, e ele não comete nenhum.

Enfim, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é um filme feito sob medido para os fãs, infelizmente na conotação negativa do termo. Com tantos easter-eggs, referências e revelações incríveis, ficamos sedados diante dos problemas do roteiro, que é totalmente dependente de um conhecimento da franquia para funcionar: o filme é muito auto referente, e se você não tem conhecimento mínimo do universo e das histórias do universo criado pela autora, você não tem a base necessária para entender os conflitos deste filme, e achará que o filme não faz sentido nenhum, um compilado de cenas soltas e personagens que não se desenvolvem. Mas há uma luz: JK nos brinda com excelentes ideias (o filme trata de temas muito atuais) e muito potencial para os próximos filmes. E bom, se você é fã da franquia, como eu, vai curtir pra caramba mesmo, e surtar com todas as referências, não tem jeito. 


PS: Fazia anos que não via um 3D tão bom.


APROFUNDANDO A DISCUSSÃO

Caso você já tenha assistido à Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald e queira se aprofundar na discussão comigo, deixa aí seu comentário. Aproveita, e diz também se gostou deste novo formato. Estou tentando escrever críticas e resenhas mais objetivas e didáticas, que te ajudem mesmo na hora escolher o que vale ou não a pena o seu tempo e dinheiro.




"O que define um filme ser bom ou não? O que define você gostar ou não de alguma coisa? Seus gostos? Sua subjetividade cunhada pela sua vivência e experiências sociais desde a sua infância até o momento atual no sentido mais existencialista possível dessa lógica? Apenas você. E mais ninguém define o que é bom ou não. O que um crítico de cinema faz é discutir se regras usadas, pra facilitar uma mensagem passada de modo áudio visual, foram bem sucedidas. Analisa essas regrinhas que facilitam a captura da atenção do interlocutor. Analisa se além dessas regras o diretor se arriscou em botar ali, algo seu de um jeito especial. De um jeito até pra poucos. E essa é (às vezes) a graça de um filme blockbuster ou cult. E se mesmo sem usar essas regrinhas o diretor e sua equipe conseguiram passar a mensagem, conseguiram te atingir, conseguiram capturar a atenção de sua subjetividade cunhada pela sua vivência e experiências sociais desde a sua infância até o momento atual no sentido mais existencialista possível dessa lógica? E se mesmo assim eles conseguiram… O filme ainda é ruim? O filme não funciona? Bem, se sua resposta é sim, que não funciona, é uma pena você pensar tão pequeno sobre cinema ainda. Se sua resposta é não, ele funciona e que regras pra facilitar são apenas regras pra facilitar e que não, necessariamente, são uma obrigação. Afinal… Você considera cinema uma arte, não é? E existem regras pra arte?"
(Alcênio Borges, ZOOMNews)

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